O presidente da França será casado com um homem vestido de mulher? A pergunta corre na internet, formulam-se muitas “teorias” e voam boatos. Uma coisa é certa: a relação entre os dois é, no mínimo, bizarra e conheceu agora novo capítulo esdrúxulo, com o chefe de Estado a levar uma estalada da Brigitte, capturada pelas câmaras.
A questão não é o facto de ela ser 24 anos mais velha. O ponto é que, quando se conheceram, ele tinha 14 ou 15 anos e ela quase 40. Ou seja, tudo começa com uma história de abuso (vendida como uma
História de Amor) que, pelos vistos, se perpetua até aos dias de hoje. A atual primeira dama era casada, com três filhos (um mais velho do que Macron), e era sua professora, ou seja, ocupava um lugar de autoridade e ascendente, posição que torna o abuso sexual de adolescentes particularmente grave. Juntaram-se, ele com 18 e ela com 42. Noutras etapas etárias, 24 anos de diferença (ou mais) podem ser mitigados — o problema é que ele era uma criança.
Tudo isto tem sido branqueado, normalizado, como acontece com algumas outras celebridades (como a violação de Paula Lavigne por Caetano Veloso quando ela tinha 13 e ele 40 — também um casal até hoje).
Esta relativização presta um péssimo serviço ao combate à pedofilia, às violações e aos direitos humanos em geral. Pior é que esta relativização é, vezes demais, acompanhada também por outros duplos critérios no que às mulheres diz respeito. Basta recordar, por exemplo, que, em 2023, Luis Rubiales, presidente da Federação de Espanha de Futebol Feminino, foi apedrejado no pelourinho por um “xoxo não consentido” a uma jogadora, no meio do arrebatamento da vitória do Campeonato do Mundo. Durante semanas, esse momento alagou o espaço público, enquanto não apenas se minimiza o facto de Macron ser um menino quando Brigitte o levou para a cama, como se enquadra a violência física como uma “brincadeira”.
Aliás, foi mesmo esse o expresso na comunicação oficial do Estado francês. Ou seja, um ataque frontal não apenas ao combate à pedofilia e à violação, mas também à violência doméstica. Afinal, quem está nesta luta todos os dias tem de repetir que controlo, ciúmes, empurrões, desrespeito, etc. são linhas vermelhas. Ou já não são?
É também caso para perguntar, onde estão hoje os tais arautos dos direitos que pulavam com Rubiales. Onde andam agora esses paladinos do puritanismo, esses pináculos dos bons costumes? Num concerto do Caetano?
Não faço a menor ideia se Brigitte é um homem, nem isso me interessaria não fosse Macron um presidente francês a levar porrada. Aliás, essa coisa de as pessoas assumirem as suas preferências sexuais publicamente — como declararem-se homossexuais, etc. — faz parte deste embrulho problemático. A vida sexual de cada um é privada — desde que sejam dois adultos livres.
Mas uma coisa, sei: este rol de duplos critérios (estas contradições como as exceções para os famosos ou a desconsideração no caso de ser a mulher a agressora) geram equívocos, confusão e, claro, as ditas “teorias” como Brigitte-homem, hipóteses que apenas servem para tentar explicar o que, aparentemente, não tem justificativo, como a sociedade francesa romantizar a violação de um puto de 15 anos por uma professora…
Ou seja, as elites, com as suas mentiras, ocultações ou esquemas, atiçam Teorias da Conspiração e depois promovem castigos/censura a quem ouse pensar sobre a realidade que vê. Maligno e perverso. Abuso.