O vinho ocupa um lugar central na identidade portuguesa. Portugal é o maior consumidor de vinho per capita do mundo e figura entre os dez principais países produtores e exportadores. De norte a sul, o território está profundamente ligado à viticultura. Mais do que um produto, o vinho é uma expressão viva da nossa cultura gastronómica e das paisagens autênticas que moldam o país. Está presente em celebrações familiares, sociais e de negócios, tem personalidade e desperta os sentidos.
O enoturismo prolonga essa ligação emocional e sensorial ao unir, numa só experiência, três setores: a vinha (setor primário), a produção de vinho (setor secundário) e a hospitalidade e turismo (setor terciário). Ficar num hotel integrado na paisagem vinhateira, observar as vinhas ao ritmo das estações, jantar num restaurante vínico ou participar numa prova comentada é uma forma de conhecer o terroir com todos os sentidos e valorizar, de forma sustentável, os recursos e as comunidades que lhe dão vida.
Falar de enoturismo sustentável é reconhecer que esta atividade não se esgota na beleza das vinhas ou na excelência do vinho servido ao visitante. Trata-se de um modelo integrado que assenta em três pilares: ambiental, económico e social. A dimensão ambiental envolve práticas como a gestão eficiente da energia e da água, o respeito pela biodiversidade e a produção biológica. A vertente económica foca-se na viabilidade das operações enoturísticas, na inovação tecnológica e na criação de valor local. Já a dimensão social traduz-se na valorização dos saberes da comunidade e na contratação de residentes locais.
Diversos exemplos nacionais mostram que é possível conjugar tradição, inovação e responsabilidade social num modelo de enoturismo sustentável. Na Herdade do Esporão, em Évora, destaca-se a aposta na produção biológica certificada e na gestão eficiente da água — um recurso escasso no Alentejo. O restaurante Esporão, distinguido com uma estrela Michelin vermelha e uma estrela Michelin verde, prova que sustentabilidade e alta gastronomia podem coexistir, valorizando ingredientes locais e sazonais.
A Companhia das Lezírias, no distrito de Santarém, é um caso exemplar de gestão integrada do território: além da viticultura biológica, desenvolve atividade agrícola, florestal e pecuária, contribuindo para um ecossistema vivo e equilibrado, onde cavalos e gado coexistem em harmonia com a natureza, preservando a autenticidade da lezíria ribatejana.
Já a Adega Mayor, em Campo Maior, une enoturismo, arte e arquitetura através do edifício desenhado por Siza Vieira, perfeitamente integrado na paisagem. Aqui, a forte ligação dos trabalhadores à vinha revela-se em gestos de orgulho e ternura — uma dimensão social viva e enraizada. Por fim, o Vila Galé Clube de Campo, em Beja, integra produção agrícola, vinícola e hoteleira num modelo que aposta em energias renováveis, gestão eficiente da água e valorização de produtos locais, oferecendo aos visitantes experiências imersivas como provas de vinho e participação em atividades agrícolas. Juntos, estes quatro projetos ilustram diferentes caminhos para um mesmo compromisso: um enoturismo que respeita a terra, valoriza as pessoas, gera valor económico local e preserva o futuro.
É na harmonia entre enoturismo e sustentabilidade que Portugal consolida a sua posição de liderança no panorama mundial do setor vitivinícola. Um compromisso que se celebra com um brinde ao futuro.
Presidente da DRCA, Ordem dos Economistas. Professora Catedrática na Universidade Aberta. DINÂMIA’CET
O “Quadrado Perfeito” não é só uma análise técnica, feita por quatro economistas de diferentes regiões do país, que se revezam semanalmente, à quarta-feira. É uma narrativa que revela nuances regionais tantas vezes ignoradas para uma compreensão integral da economia.