A tinta das notícias sobre as classificações dos centros de investigação científica das universidades públicas e privadas portuguesas têm-me gerado alergia. Seja talvez da tinta das notícias, ou então da meia verdade que ali paira. Parece-me um evidente nudging. Mas, não positivo. Tendo eu investigado o relatório destas classificações, ao qual tenho acesso e que têm sido enaltecidas como muito melhores neste ano, há aqui um erro crasso. Não estão melhores este ano, exatamente o contrário. Afetando mais umas áreas do que outras. O que está diferente é o ‘dinheiro’ que as entidades governamentais haviam suprimido (aos centros de investigação) no ano anterior.
Mas o que são os centros de investigação? São unidades especializadas com investigadores sénior e júnior (e isto não tendo que ver com a idade, mas sim com a nossa experiência precoce) a desenvolver ciência em prol do futuro. Fica assim bem descrito. E é esta a lógica dos centros de investigação mundiais.
Para haver um centro de investigação com nexo, tem de haver gente (sapiente) e dinheiro (algum ou muito, desde que bem distribuído). E essa gente tem de ser especializada, dotada de competências excecionais (ou só boas no mínimo). É mesmo assim, porque os centros de investigação sem dinheiro e sem avaliação positiva (vice-versa também se lê) não podem envergar nem uma miniatura do padrão dos descobrimentos para vender nas tendas turísticas. É a verdade, embora coberta de injustiça. Felizmente integrei sempre diferentes centros de investigação bem ou muito bem financiados. Depende dos ventos dos modelos sociopolíticos portugueses. Mas, a avaliação tem estado a mudar e os ‘antigos’ centros vaidosos estariam, talvez, tão acomodados que caíram da árvore neste ano, que nem uma preguiça felpuda na floresta densa a sul de Costa Rica.
Em geral, muitos centros de investigação, não obstante os seus esforços de melhoria, ficaram, pela primeira vez em anos, um pouco aquém de reputadas avaliações dos painéis internacionais da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Eu estimo muito a FCT porque sempre foi a minha casa financeira (desde 2006). E foi aqui que fiz muitas amizades e muitos colegas de ciência. Também invejas, infelizmente para quem as sente. Muitos perderam-se pelo caminho, por falta de oportunidade ou de estratégia. A FCT é rigorosa como deve ser, nem sempre justa quando os avaliadores comparam universidades públicas e privadas e os lobbies se instalam. Lobbies ou lobos, teremos de os combater na discriminação ‘pegada’ que ainda persiste. Um exemplo óbvio está no tal nudging que as notícias fazem: mencionam só as universidades públicas com o intuito de atrair novos profissionais. E isso também é outro erro. Aliás, foram mais as públicas que despediram, sem dó, investigadores no final dos seus contratos ao abrigo da norma transitória.
Pela primeira vez, reparo que houve maior justiça na avaliação dos centros de investigação nacionais. Vários centros de instituições ‘públicas’ não estiveram brilhantes e sobretudo alguns de instituições privadas que gostam de exibir a vaidade científica. Agora, caiu-lhes a saia e foi dado o merecido louvor a novos centros que lutam melhor pela união e pela ciência. As ilhas estão entre os bons.
Dizer também que outra coisa estranha foi noticiada nestes dias sobre os meandros da ciência: o novo estatuto científico ‘aconteceu’ volvidos 26 anos! Isto é algo muito bom e fruto de evolução em Portugal. Mas algo paira com sombra sobre este bom voto e aprovação pela Assembleia da República: afinal quem será abrangido e quem vai pagar todos os contratos dos eleitos (não somos muitos, os de nacionalidade portuguesa) investigadores após a norma transitória 57/2016 (2017)? E as universidades privadas não podem continuar na fuga de contratação obrigatória de investigadores de carreira. Questões que ainda pendem, mas acredito piamente que estamos a tornar-nos investigadores reconhecidos cada vez (ainda) mais em Portugal. E os nomes portugueses ressoam no mundo, isso deixa-me muito feliz. Cientistas e futebolistas fazem, ora, uma boa dupla da bandeira verde e vermelha.
Cada vez mais os investigadores de carreira são reconhecidos e bem remunerados, comparando com a tragédia salarial escalada em Portugal, pelo que se recomenda bastante esta profissão e a sua longevidade. Obrigada, Senhor Presidente da República e específicos partidos que nos apoiam. Muitos portugueses e portuguesas estão de alma ‘levantada’. Como o hino.