
Vivemos num tempo em que a informação de qualidade é um dos pilares mais frágeis da nossa democracia. A proliferação de desinformação, impulsionada por algoritmos que privilegiam o ruído em detrimento da substância, ameaça a forma como os cidadãos compreendem o mundo, tomam decisões e exercem os seus direitos. Neste contexto, apoiar as empresas de media, é não só uma necessidade ética como uma responsabilidade estratégica. E isso passa, inevitavelmente, por estimular a subscrição de conteúdos digitais.
De acordo com os dados mais recentes, menos de 100.000 portugueses subscrevem atualmente produtos digitais de órgãos de comunicação social. Um número irrisório quando comparado com os nossos vizinhos espanhóis, onde apenas o Grupo Unidad Editorial — responsável por títulos como El Mundo, Marca e Expansión — soma mais de 1,2 milhões de assinantes digitais. Este fosso não se explica apenas por diferenças demográficas ou de poder de compra. É também resultado de políticas públicas mais ambiciosas e de uma valorização clara, por parte do Estado espanhol, da função social do jornalismo.
Em Portugal, o discurso político tem reconhecido a importância da imprensa, mas faltam medidas concretas e estruturais. Por isso, defendo com convicção que o Estado deve implementar incentivos fiscais para que todos os cidadãos que subscrevam uma assinatura digital de um órgão de comunicação social português. Esta dedução, limitada a um valor anual razoável, poderia ser integrada no IRS como acontece com as despesas de saúde, educação ou passes de transportes.
Esta medida teria impactos positivos imediatos:
- Reforçaria a sustentabilidade financeira dos media – garantindo receitas recorrentes num setor onde a dependência da publicidade é, por vezes, desequilibrada e insuficiente;
- Promoveria o consumo de informação de qualidade – reduzindo a exposição da população à desinformação partilhada nas redes sociais;
- Criaria uma relação de valor entre leitores e jornalismo – ao contrário do que acontece com o consumo gratuito e muitas vezes passivo de conteúdos;
- Geraria um círculo virtuoso de investimento editorial – permitindo às redações investir mais em jornalismo de investigação, inovação digital e talento.
Claro que esta medida deve ser acompanhada de critérios objetivos de elegibilidade: só deveriam beneficiar do incentivo os títulos reconhecidos pela ERC como órgãos de comunicação social com atividade regular, editorial independente e que cumpram as suas obrigações fiscais e laborais.
Portugal não pode continuar a olhar para os seus media como estruturas em permanente estado de urgência. A informação não é um luxo. É uma necessidade coletiva. E como tal, deve ser tratada com a mesma prioridade que outras áreas estruturantes da sociedade. Se queremos cidadãos informados, críticos e participativos, temos de os ajudar a chegar à informação — e não apenas esperar que lá cheguem por acaso ou por milagre.
Fernando Parreira, fundador da ROI Rebels