Trata-se da residência de Bougy-Saint-Martin, com muitos hectares de campo a perder de vista, piscinas, jardins franceses, campos de ténis e várias casas, além da principal, apalaçada.

Por estes dias, enquanto os portugueses apertam o cinto perante os preços que não param de aumentar, o ex-banqueiro e a sua família vivem no luxo e com uma mesada de 40 mil euros dada pela filha. Nada mau.

Maria João Salgado, a mulher, que outrora se queixava dos mosquitos nas mansões aperaltadas da Comporta, agora lamenta ter de contratar uma cuidadora para a ajudar com o marido ou ter de lhe destinar um quarto no andar de baixo para “ele não ter de descer escadas e ir à casa de banho”. Que falta de noção. Nada aprendeu, definitivamente, e continua a ignorar a dura realidade dos portugueses e de tantos cuidadores informais que se esfalfam para tratar condignamente os seus, sem pessoal auxiliar ou quartos extra em palacetes à beira-mar em Cascais. E sem 40 mil euros por mês, claro. Só mosquitos.

Nem de propósito, as faustas e supimpas celebrações deste clã foram acompanhadas por este saldo final: os desvarios de Ricardo Salgado custaram ao Estado (nós todos) milhões e milhões, enquanto a Lone Star ficou com os cofres a abarrotar!

O Novo Banco, o "banco bom" criado após o colapso do Banco Espírito Santo, foi agora vendido aos franceses do BPCE por cerca de 6,4 mil milhões de euros.

Ou seja, nestes anos, o fundo Lone Star, multiplicou por cinco o seu investimento enquanto nós, os contribuintes — que lá injetámos 8 ou 9 mil milhões (a conta não para de aumentar) — ficamos a arder.

Aliás, em 2021, o Tribunal de Contas arrasou a resolução: “Não foi minimizado o seu impacto na sustentabilidade das finanças públicas nem reduzido o risco moral”, concluía-se no relatório de auditoria.

Vamos ver quanto mais todos nós vamos ter desembolsar para cobrir este crime político e financeiro. Certo é que ainda decorrem centenas de processos judiciais contra várias entidades (Banco de Portugal, Novo Banco, Estado, etc) e se os tribunais decidirem indemnizações será o Fundo de Resolução (nós) que será chamado a pagar a já pesada fatura. É circo e os palhaços somos nós.

Hoje é óbvio que, perante o grave cenário financeiro do BES, no verão de 2014, a escolha devia ter sido a liquidação, como sempre defendi. O próprio Banco de Portugal estimou que um cenário de falência/ bancarrota teria levado o Fundo de Garantia de Depósitos a gastar entre 9.000 e 18.000 milhões de euros para reembolsar os depósitos garantidos. Enfim, enquanto os beneficiários do assalto ao BES não foram privados dos bens e riquezas desse processo, é cristalino que o Novo Banco serviu de veículo para limpeza de dívidas com garantias do Estado. Para socializar a dívida, privatizar o lucro; e caucionar negócios obscuros.

Onze anos depois, centenas de Lesados do BES (os que não se suicidaram) não recuperaram as suas poupanças de uma vida. Onze anos depois, e após duas condenações, Ricardo Salgado continua solto e ninguém o prende, mesmo tendo já perdido o recurso no Tribunal da Relação. Onze anos depois, todos nós continuamos a sustentar-lhe a vidinha de rajá-sultão-xá. Feliz aniversário, DDT. É obra!

Ativista Política//Escreve à quarta-feira no SAPO 

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