
1 – É sabido que Portugal se mantém há mais de dois séculos na cauda dos países da Europa Ocidental em termos de PIB per capita em paridade de poder de compra.
Há quase 40 anos que o nosso país recebe da União Europeia fundos significativos cuja finalidade é a de permitir a convergência com a média dos Estados Membros.
Em 1986 o PIB pc de Portugal correspondia a 51% da média comunitária, valor que subiu para 75% em 1995 (período dos Governos de Cavaco Silva). Em 2023, o PIB pc de Portugal, expresso em paridades de poder de compra, foi de 80,5% da média comunitária: 30 anos praticamente em estagnação!
São muitas e de várias naturezas as causas atuais que se combinam para este atraso português. De entre elas saliento apenas as três seguintes:
– A cultura político-social da esquerda não social democrata, pós-marxista/gramsciana e wokista, estatizante e assistencialista, que prioriza a distribuição de riqueza antes de cuidar da sua criação, o que condena um país à mediocridade, obstaculiza as reformas estruturais necessárias ao aumento da produtividade e da competitividade da economia, desvaloriza o trabalho e o mérito enquanto fontes de realização do homem, promove o alinhamento por baixo da classe média, provoca um ambiente não favorável ao investimento, hostiliza, por razões ideológicas, as grandes empresas e a banca enquanto representantes do “grande capital”, tende a gerar uma excessiva dependência do Estado e é inibidora do dinamismo da sociedade e da iniciativa empresarial e individual.
– A ausência de uma estratégia de longo prazo consistente e mobilizadora de criação de mais riqueza, de fomento de uma estrutura empresarial mais dinâmica, inovadora e com mais escala e de correspondentes medidas de política eficazes, com um enquadramento da atividade económica favorável ao investimento (que requer em absoluto reformas estruturais na área fiscal, na desburocratização, na justiça, na legislação laboral, no investimento em capital humano, criador de um pipeline de talentos, nas política de remuneração, no claro reforço da inovação e ciência ao serviço da economia).
– Um investimento e uma dimensão empresarial insuficientes para um crescimento robusto da economia, que derivam, por um lado, e no que respeita ao investimento produtivo, das limitações do capital privado nacional, do fraco nível de poupança e da sua aplicação em investimento produtivo, da capacidade de atração de IDE, do incipiente mercado de capitais e, ao mesmo tempo, das restrições ao investimento público provocadas pela bancarrota de 2011 e consequente necessidade de uma gestão rigorosa das finanças públicas e, por outro, de uma estrutura empresarial com muito escassas grandes empresas e inúmeras micro e pequenas empresas, com produtividade muito baixa.
Dar a volta a esta situação só é possível com um projeto mobilizador da sociedade e com pedagogia política que apele à razão e clarividência dos cidadãos/eleitores: a manter-se esta realidade, não sairemos da cauda da Europa.
2 – Com a relativamente escassa capacidade nacional de investimento privado existente e a apatia do mercado de capitais, os bancos são uma fonte essencial de financiamento das empresas, situando-se mesmo como um dos motores da economia.
É curiosa a constatação de que, na segunda metade do século passado, os maiores empresários nacionais criaram bancos com o objetivo de gerar novo negócio e apoiar o crescimento da economia, mas, também, das suas empresas e grupos empresariais.
A crise financeira iniciada no fim de 2007 conduziu a um novo enquadramento regulatório muito exigente, complexo e denso, e a uma supervisão muito mais intrusiva, vendo-se o Estado obrigado a realizar empréstimos aos bancos (com juros elevadíssimos) para assegurar a estabilidade financeira. Entretanto, o BCE adotou uma política de taxas de juro muito baixas ou negativas para procurar estimular as economias, o que afetou decisivamente a margem financeira dos bancos e a sua rentabilidade. Em Portugal veio a juntar-se a crise da dívida soberana e consequente grande recessão, penalizando ainda mais a situação dos bancos.
Os bancos nacionais responderam aos novos desafios – os primeiros dos quais eram restaurar a confiança e proceder a uma gestão mais rigorosa e estruturante – e encontram-se hoje numa situação muito positiva: as medidas levadas a cabo fazem com que estejam muito sólidos, com muito bons rácios de capital e de liquidez, rácios de NPL bastante baixos (significando uma enorme melhoria da qualidade dos seus ativos). E, entretanto, com o regresso a um ciclo de crescimento económico e a taxas de juro normais, a margem financeira e a reversão de algumas imparidades permitiram, ao fim de mais de 10 anos, níveis de rentabilidade acima do custo do capital e que contribuem para aumentar a robustez dos bancos. De referir, ainda, que as ajudas de Estado concedidas ao BCP, ao BPI e à CGD foram integralmente reembolsadas e constituíram um dos melhores investimentos do Estado, com uma rentabilidade elevadíssima. A resolução do BES é suportada pelos bancos, embora o Estado tenha concedido um financiamento para o efeito, que, naturalmente, está a ser pago pelas instituições financeiras, sendo previsível que a futura venda do Novo Banco venha a minorar os custos incorridos. O banco que, de facto, provocou perdas significativas para o Estado foi o BPN.
Ora, da mesma maneira que a banca se fortaleceu muito, também em termos de finanças públicas tivemos uma evolução muito positiva. Os mercados olham hoje para Portugal de forma favorável, o que, acrescido dos apoios que o PRR e os fundos comunitários disponíveis oferecem, constituiria uma oportunidade excelente para atrair investimento e proporcionar maior crescimento. Tal é, no entanto, contrariado pelo bloqueio que é feito pelos partidos radicais às reformas estruturais que são indispensáveis ao aumento da produtividade e da competitividade. Tal só poderia ser contrariado por um pacto reformista envolvendo PSD, PS, IL e CDS, mas, infelizmente, não creio quer isso aconteça nos próximos anos, pois a cultura de compromissos políticos em Portugal é demasiado frágil. A alternativa é só uma: um governo maioritário realmente reformista, com visão estratégica de médio e longo prazos e com efetiva vontade de as realizar.
3 – As instituições bancárias em Portugal enfrentaram e superaram bem, nesta última dezena de anos, os seus 5 grandes desafios : Regulação, Reinvenção (foco e mudanças comportamentais e digitais ao nível do cliente bancário, mudanças tecnológicas e sua utilização por bancos e clientes, novos fatores a considerar, como utilização de dados, riscos cibernéticos, critérios ECG e nova concorrência, das fintechs, bigtechs, ativos/moedas digitais, shadow banking), Reputação, Rentabilidade e Retoma e Revitalização da Economia (no que respeita ao seu papel crucial).
O setor bancário ganhou resiliência e modernidade.
Mas o ritmo alucinante de transformações e de incertezas que vivemos faz com que as capacidades, quer de adaptação pela ação constante, quer de prospetiva e antecipação, sejam determinantes para o sucesso dos bancos, sempre envolvidos em novos desafios e atentos a novas oportunidades.
Os principais temas que continuarão a estar em cima da mesa têm a ver com a inovação tecnológica, a concorrência financeira, a qualificação dos colaboradores, a segurança cibernética e a regulação excessiva.
No que respeita à inovação tecnológica, importa atender às expectativas dos clientes, que querem serviços bancários mais rápidos, personalizados e acessíveis por dispositivos móveis. A transformação digital prossegue o seu trajeto e requer a aplicação rápida das novas tecnologias, do blockchain, à computação em nuvem e à inteligência artificial. Esta está a ter diversas aplicações no setor bancário, em áreas como a análise e deteção de dados, no atendimento automatizado do cliente (assistentes virtuais e chatbots), na análise do risco de crédito e nos processos de aprovação mais rápidos do crédito, na personalização de produtos e serviços, olhando o comportamento do cliente e recomendando produtos financeiros e investimentos por meio de algoritmos preditivos, na segurança cibernética, na gestão de ativos e investimentos, apoiando a previsão de tendências de mercado e otimização de estratégias de investimento, bem como na melhoria da experiência do cliente.
Naturalmente, os bancos têm de realizar relevantes investimentos na modernização das infraestruturas e adotar soluções de segurança robustas e avançadas, de formar intensamente os seus colaboradores para a utilização das tecnologias e regulamentos e de captar o melhor talento, bem como estabelecer parcerias com instituições que lhes aportem vantagens, como as FinTechs, ao permitir acelerar a concretização de objetivos visados.
Relativamente à concorrência financeira, a atenção centra-se em especial na evolução das bigtechs e fintechs, nos neobancos exclusivamente digitais, na concorrência alternativa das criptomoedas e das moedas digitais dos bancos centrais, bem como das plataformas DeFi (finanças descentralizadas), todas elas desafiando a posição dominante dos bancos em serviços como transferências e outros e exigindo destes a gestão da perceção de risco associada, por exemplo, às criptomoedas.
Os nossos bancos estão em condições bem favoráveis e apetentes para contribuir decisivamente para a resposta que a sociedade, as empresas e, em particular, a classe política, quiserem dar ao mais importante desiderato nacional: criar mais riqueza para a poder distribuir com objetivos de justiça social.