
A madrugada de 18 de agosto ficará marcada na memória de Helena Moreira, gerente da Queijaria do Paul. Após conseguir passar o bloqueio da GNR, encontrou os campos da exploração completamente destruídos. O fogo consumiu todo o pasto disponível e reduziu a cinzas um armazém com mais de mil fardos de palha e um trator, num prejuízo estimado entre 50 a 60 mil euros.
Ainda assim, as mais de 400 ovelhas sobreviveram e, no dia seguinte, as funcionárias não hesitaram em regressar ao trabalho. “É uma luta, mas tem de ser”, resume uma das queijeiras.
Os maiores problemas residem agora na alimentação dos animais. A perda da palha armazenada para o inverno obriga à compra imediata e duplicada de alimento, agravando a situação financeira da pequena exploração artesanal, que até equacionava expandir, mas poderá ver-se forçada a reduzir o rebanho.
Helena Moreira admite que “para viver no Interior é preciso resistência e superação”, mas lamenta a solidão sentida em momentos de calamidade.
Na freguesia da Erada, Alexandre Rodrigues, produtor de 250 cabras, conseguiu salvar a quinta com a ajuda da família e de duas equipas de bombeiros. Preparado desde que o fogo avançava de Seia, o agricultor protegeu os pavilhões com depósitos de água e baldes. Apesar de perder algumas máquinas e palha, sublinha que poderia ter sido muito pior.
Já em Unhais da Serra, Alexandre Galvão não contou com bombeiros. Armado com pás e enxadas, defendeu com a família e 300 cabras serranas a quinta em plena encosta da serra. Escaparam, mas perderam todo o pasto. A preocupação agora é com cerca de 120 cabras prenhas, que podem abortar devido ao stress e às cinzas no ar.
“Era preciso mais rebanhos”, defende o jovem pastor, lembrando que na serra quase já não há quem resista. Critica ainda a política de combate a todos os fogos, defendendo que as queimadas de inverno ajudariam a prevenir tragédias no verão.
Entre perdas e resistência, pastores e queijeiros da Covilhã enfrentam um futuro incerto, com prejuízos pesados e a incerteza de como recuperar o que o fogo levou.