O Programa Alimentar Mundial (PAM) alertou para o aumento histórico da desnutrição crónica em Angola, que afeta atualmente 40% das crianças menores de 5 anos, um aumento significativo em relação aos 38% registados em 2015-2016.

O dado foi apresentado pela chefe de Nutrição do PAM no país, Gracy Santos Heijblom, que destacou o impacto negativo dessa condição no crescimento e no desenvolvimento das crianças.

A desnutrição crónica, caracterizada por uma baixa estatura para a idade, é um problema de saúde pública significativo em Angola, onde a situação tem vindo a piorar nas últimas décadas. “Em 2007, a taxa era de 29%, em 2015-2016 estava 38%, e agora, em 2024, subiu para 40%”, informou Gracy Santos Heijblom, referindo-se ao cenário atual da desnutrição infantil no país.

A responsável do PAM sublinhou a importância de políticas públicas mais eficazes para combater esse problema, defendendo investimentos em cuidados primários de saúde e em alimentos nutritivos. “É fundamental melhorar o acesso da população a alimentos saudáveis e a serviços de saúde, para garantir que as crianças possam ser acompanhadas adequadamente em termos de crescimento e desenvolvimento”, afirmou.

Além disso, Gracy Santos Heijblom destacou que a baixa cobertura vacinal em Angola também é um fator que contribui para o agravamento da situação, a falta de acesso a vacinas e a cuidados médicos básicos coloca as crianças em risco, aumentando a vulnerabilidade a doenças e complicações associadas à desnutrição.

A desnutrição crónica tem consequências graves, não só para a saúde física das crianças, mas também para o seu desenvolvimento cognitivo.

Gracy Santos Heijblom alertou para as alterações cognitivas que podem surgir em crianças desnutridas, afetando diretamente a aprendizagem. “As crianças com desnutrição podem ter dificuldades cognitivas, o que impacta o seu desempenho escolar e, consequentemente, o seu futuro”, explicou.

Em Angola, a taxa de desnutrição crónica é ainda mais alarmante nas zonas rurais, onde 51% das crianças menores de 5 anos sofrem deste problema.

Esses dados foram revelados pelo Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2023-2024, que também mostrou um aumento do número de crianças com baixo peso, que passou de 19% para 21% desde o último estudo.

A chefe de Nutrição do PAM também alertou para a situação de crise sanitária em Angola, mencionando a atual epidemia de cólera, que já matou mais de 600 pessoas. “As crianças com desnutrição têm a imunidade mais baixa, o que as torna mais suscetíveis a doenças. Isso cria um círculo vicioso em que a desnutrição e as doenças se reforçam mutuamente”, afirmou Gracy Santos Heijblom.

A falta de acesso à água tratada e o inadequado sistema de saneamento são problemas prementes no país, exacerbando as condições de saúde infantil e contribuindo para a propagação de doenças infecciosas.

Para reverter esse quadro, Gracy Santos Heijblom defendeu a implementação de políticas públicas que invistam na atenção primária à saúde, como o fortalecimento dos postos de saúde comunitários e o envolvimento de agentes de saúde locais.

“Os países que mais conseguiram reverter a desnutrição infantil são os que investiram em cuidados primários”, afirmou.

Nesse contexto, o Governo angolano lançou o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para o triénio 2025-2027, com o objetivo de melhorar o acesso das crianças a alimentos nutritivos.

O programa, em colaboração com o Brasil e o PAM, prevê uma alimentação diária e equilibrada para 5,4 milhões de alunos. O Governo angolano irá investir cerca de 1,3 biliões de kwanzas (aproximadamente 1,2 mil milhões de euros) nos próximos três anos para garantir a implementação do PNAE.

“Antes, o programa tinha um valor fixo para cada município, mas agora será por criança. A intenção é oferecer uma refeição quente e nutritiva para cada aluno, respeitando as especificidades culturais de cada região”, explicou Gracy Santos Heijblom.

O PNAE é visto como uma “grande transformação” no combate à desnutrição infantil, garantindo uma alimentação equilibrada e acessível às crianças em idade escolar, além de contribuir para o desenvolvimento do país a longo prazo.