Nunca falei com Diogo Jota ou o irmão, André Silva, talvez tenha estado em alguma conferência de imprensa ou zona mista do primeiro, antes ou depois de jogos da Seleção Nacional ou dos clubes que representou, não me lembro.
Sem qualquer relação pessoal com o internacional português, encarei a morte dele como se o conhecesse há muito, uma proximidade distante – a psicologia explicará – por mais paradoxal que possa parecer.

Soube da tragédia na manhã de quinta-feira, num canal televisivo que passava a informação em rodapé, sem destaque de última hora, naquele instante pensei até tratar-se de alguém com o mesmo nome e profissão que falecera. Rapidamente constatei, porém que era Diogo Jota quem partira, acompanhado pelo mano, uma das palavras de que mais gosto.

Duas vidas interrompidas famílias destroçadas, (mais que) um país em choque. A morte, sempre que chega cedo, torna-se ainda mais cruel. Não porque seja menos natural – infelizmente, é a única certeza que temos – mas porque a associamos ao que não foi vivido e poderia ter sido.

Diogo e André eram futebolistas. Que se lixe o futebol!

Quando morre alguém assim sentimo-nos traídos. E juntamente com a tristeza emerge um terror (quase) egoísta – podia ter sido connosco, com a nossa cara metade, com, os nossos irmãos, com os nossos filhos, com os nossos pais. A dor da perda alheia torna-se espelho dos nossos próprios insuportáveis.

Orlando Fernandes