Imagine acordar e perceber que já não consegue falar, escrever ou compreender o que os outros dizem.

Sem aviso prévio, sem dor, apenas o silêncio, para milhares de pessoas em Portugal, esta é a realidade diária provocada pela afasia, uma perturbação neurológica que afeta a capacidade de comunicação sem comprometer a inteligência.

Apesar de ser mais comum do que se imagina, especialmente após acidentes vasculares cerebrais (AVC), traumatismos cranianos ou tumores cerebrais, a afasia continua a ser uma condição invisível aos olhos da sociedade e das instituições públicas, alerta a IPAFASIA – Associação Portuguesa de Apoio à Pessoa com Afasia.

“Mais do que uma condição médica, a afasia é uma barreira social. É urgente garantir respostas terapêuticas consistentes, mas também mudar mentalidades”, sublinha Paula Valente, diretora executiva da IPAFASIA. “As pessoas com afasia continuam a pensar, a sentir, a querer comunicar. Só precisam de tempo, compreensão e das ferramentas certas.”

Para responder a esta necessidade, a IPAFASIA tem investido na formação de centenas de profissionais de saúde, tanto no setor público como privado, promovendo a utilização do método de comunicação com maior evidência científica disponível.

“Muitos doentes sentem-se excluídos dos processos de decisão clínica por barreiras de comunicação que podem ser superadas”, afirma Paula Valente. “Por isso, desenvolvemos ações formativas práticas e participativas, onde são as próprias pessoas com afasia que assumem o papel de formadoras, ajudando a construir um sistema de saúde verdadeiramente centrado na pessoa.”

As instituições interessadas em acolher estas formações podem candidatar-se junto da associação.

Apesar da prevalência da afasia, Portugal ainda não dispõe de uma rede estruturada de apoio que garanta terapias acessíveis e continuadas, alerta a IPAFASIA. O silêncio institucional e mediático mantém milhares de pessoas numa situação de isolamento e exclusão social, sem visibilidade para um problema que afeta todas as dimensões da vida quotidiana.

“Falar ao telefone, pedir um café ou manter uma conversa simples torna-se um desafio. A ausência de compreensão pública sobre a afasia aumenta a frustração e o isolamento das pessoas afetadas”, explica a associação.

Com uma missão centrada na inclusão e no acesso à terapia, a IPAFASIA atribui bolsas ajustadas à realidade económica dos beneficiários, apenas 20% dos utentes pagam o valor integral das sessões; os restantes beneficiam de apoio financeiro garantido em grande parte pela consignação do IRS.

“Ao doar 0,5% do seu IRS à IPAFASIA, está a garantir que mais pessoas com afasia tenham acesso a terapias que fazem a diferença nas suas vidas”, destaca a associação.

A IPAFASIA é uma associação sem fins lucrativos que atua na promoção da inclusão e na melhoria da qualidade de vida de pessoas com afasia e dos seus cuidadores.

Através de projetos de formação, bolsas de terapia e ações de sensibilização, a associação trabalha para garantir que ninguém perca o direito de comunicar, mesmo que tenha perdido a fala.