Entre as histórias mais bizarras do cruzamento entre o motociclismo e o desporto automóvel, há uma que continua a intrigar quem se lembra dela: uma moto descomunal, verde e amarela, com pneus dignos de um trator, criada por… a Caterham. Sim, aquela Caterham dos carros ultraleves e dos domingos de Fórmula 1.

Tudo começou com uma ideia quase louca saída da cabeça de Alessandro Tartarini — designer irreverente e filho do fundador da Italjet — que, em 2012, apresentou ao mundo a Italjet Brutus: uma mota off-road tão desproporcional quanto fascinante. Era como se alguém tivesse decidido meter uma moto de cross, um quad e um tanque de guerra num shaker — e o resultado tivesse passado no controlo de qualidade.

O conceito era simples: pneus gigantes, motor de 750 cc, estética brutalista e transmissão automática. Uma moto para quem não queria passar despercebido — nem nos trilhos, nem em plena cidade.

Foi então que Tony Fernandes, o homem forte da AirAsia e então dono da Caterham F1, viu ali uma oportunidade: dar nova vida à marca, entrando pelas duas rodas adentro com a mesma ousadia que sempre caracterizou os seus projectos. Nascia assim a Caterham Bikes, e com ela uma versão “britanizada” da Brutus — mais musculada, mais extravagante, e ainda menos provável.

A Brutus 750 da Caterham parecia uma ilustração saída de um caderno de esboços de um adolescente obcecado por Mad Max: suspensão sobredimensionada, jantes de 14 polegadas com pneus de tacos absurdos, quadro em alumínio grosso e uma postura que metia respeito a qualquer outro veículo com apenas duas rodas.

Apesar do aspecto intimidante, o motor monocilíndrico de 750 cc debitava modestos 45 cavalos para empurrar os seus 235 kg em ordem de marcha — mais do que muitas motos de aventura. Era mais cena que substância. Uma peça de conversa para os mais excêntricos.

Mas a Caterham não queria parar por aí. No mesmo evento onde mostrou a Brutus, revelou também duas bicicletas eléctricas com um toque retro-futurista: a Classic e a Carbon E-Bike. A ideia era clara — luxo, design arrojado e exclusividade. Havia ambição de criar uma marca boutique para um nicho de clientes que quisessem algo que ninguém mais tivesse.

Infelizmente, como tantos projectos ambiciosos nascidos de impulsos criativos e orçamentos mal calculados, tudo ficou no papel (e em meia dúzia de protótipos). A Brutus nunca rugiu fora dos salões de exposição. E a divisão de motas da Caterham evaporou-se tão rapidamente quanto surgiu.

Hoje, a Brutus 750 é uma nota de rodapé deliciosa na história do motociclismo moderno — uma recordação de quando uma marca de Fórmula 1 tentou conquistar o fora de estrada… com uma besta de duas rodas.