
Se tem mais de 30 anos, é muito provável que os relacionamentos que mantém já durem há uns anos. Com as dinâmicas da vida adulta, dos filhos à carreira e à preocupação com os familiares mais velhos, o tempo escasseia e, muitas vezes, as relações que mais acabam por sofrer são as amizades.
A falta de tempo reflete-se na dificuldade em gerir a agenda para estar com toda a gente e, ainda mais, em conhecer novas pessoas.
Falámos com a psicóloga clínica Teresa Feijão que nos explicou os desafios dos relacionamentos depois dos 30 anos, do que ter em atenção nas redes sociais e aplicações, e das melhores formas de conhecer pessoas quando procuramos novas amizades ou relações amorosas.
É realmente mais difícil fazer novas amizades depois dos 30 anos?
Com o passar dos anos, muitos adultos se apercebem que fazer novas amizades ou iniciar relacionamentos amorosos já não acontece com a mesma naturalidade da juventude, o que é normal. A vida adulta traz rotinas mais exigentes, menos tempo livre e uma maior exigência e seletividade naquilo que procuramos nas relações, o que pode ser bom, mas também limitar oportunidades.
A manutenção de amizades exige disponibilidade, escuta e investimento mútuo.
E manter as que existem?
Também pode ser um desafio. As prioridades mudam (trabalho, filhos, relações amorosas) e o tempo livre é mais escasso. A manutenção de amizades exige disponibilidade, escuta e investimento mútuo — marcar encontros, enviar mensagens, estar presente mesmo que à distância. E com carreiras, famílias e mudanças geográficas, manter as relações requer intencionalidade.
Por que razões?
Podem ser várias: falta de tempo e energia emocional, prioridades diferentes (por exemplo, maternidade, trabalho intenso, mudanças de valores e/ou interesses); cansaço social.
Considera que o mesmo acontece quando falamos de relações amorosas?
Sim, por motivos semelhantes. Mas aqui soma-se o histórico emocional — medos, desilusões, padrões cristalizados. Há também maior consciência do que se quer (ou não quer), o que pode tornar o processo mais lento e difícil.
E quanto às relações familiares, tendem a melhorar com a maturidade, ou a vida agitada que muitos levam conduz a um maior afastamento?
Depende. Em alguns casos, a maturidade leva a mais empatia, perdão e compreensão. Noutros casos, o ritmo acelerado e a distância emocional ou física podem causar, tendencialmente, afastamento. O ideal é haver espaço para reaproximações intencionais, mesmo que em novos formatos.
© Teresa Feijão
Quais são as melhores formas para conhecer novas pessoas, quando procuramos amizades ou relacionamentos amorosos? Podemos inscrever-nos numa nova atividade, por exemplo, e que mais?
Sim, uma das formas é inscrever-se em atividades que envolvam: aulas (em várias áreas), voluntariado, clubes de leitura ou caminhadas/corridas em grupo, por exemplo.
Outras formas podem ser participar em eventos culturais ou comunitários; aplicações e plataformas (com critério e segurança); indicações de amigos — ou eventualmente pedir para ser apresentado; ambientes profissionais (com os devidos limites); grupos de desenvolvimento pessoal, os quais podem levar a laços profundos.
E agora pergunto-lhe em relação à disponibilidade mental e emocional. Devemos ter em conta algumas características em termos pessoais no que toca aos encontros sociais?
É fundamental, antes de procurar, refletir:
- Estou disponível para escutar e ser escutado?
- Estou receptivo à vulnerabilidade que as relações exigem?
- Que tipo de ligação realmente desejo?
- Tenho expectativas irreais ou medo da rejeição?
A autoconsciência destas questões ajuda a tornar os encontros mais genuínos e saudáveis e a definir limites.
Conhecer pessoalmente envolve mais espontaneidade, maior investimento na comunicação não verbal e uma sensação mais imediata de conexão.
Que diferenças encontra entre conhecer novas pessoas pessoalmente e através das redes sociais?
Conhecer pessoalmente envolve mais espontaneidade, maior investimento na comunicação não verbal e uma sensação mais imediata de conexão. Digitalmente, permite um maior alcance de pessoas, mas também mais controlo da autoimagem. Pode haver mais mal-entendidos, idealizações e mentiras. A precaução tem que ser, necessariamente, redobrada.
A que devemos estar atentos no meio digital?
À coerência entre discurso e atitudes; a eventuais mentiras e omissões; à disponibilidade emocional real (não só por mensagens esporádicas); a sinais de desrespeito ou manipulação; à criação de expectativas muito rápidas, intensas e irrealistas; e à autenticidade.