
Um funcionário da UA, citado pelo ISS depois de participar em discussões à porta fechada sobre paz e segurança, disse que, "apesar de Moçambique reconhecer que precisa de assistência, a situação dificilmente chegará à agenda oficial do Conselho de Paz e Segurança (CPS) da UA em breve".
Moçambique passa a integrar o conselho em abril por um mandato de dois anos, e, "no passado, os membros têm sido avessos a ver a situação do seu próprio país apresentada pelo conselho", sublinhou.
Tais discussões precisariam também da aprovação da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), disse o oficial.
O órgão regional acredita que deve ser o primeiro a intervir e a assumir o comando das crises na África Austral - mas, até agora, nota o ISS na nota hoje distribuída, a SADC "tem ignorado a situação, pelo menos publicamente: não foi apresentada em nenhuma reunião da 'troika' da comunidade sub-regional sobre política, defesa e segurança, atualmente chefiada pelo Zimbábue".
Estas são as dúvidas que se colocam depois do discurso oficial no final da 33.ª cimeira da UA, na última semana, em Adis Abeba.
Na ocasião, questionado sobre a situação, o comissário da UA para a paz e segurança, Sma?l Chergui, referiu que a organização poderia ajudar Moçambique "com partilha de informação, fornecimento de equipamento e treino de soldados moçambicanos".
A UA poderia também ajudar Moçambique a compreender o fenómeno de forma a "responder holisticamente", disse.
O ISS nota que a UA tem, ao longo dos anos, melhorado a partilha de informação e que inaugurou uma nova sede do Comité de Serviços de Inteligência e Segurança de África, à margem da cimeira.
Na nota de análise, o instituto sublinha ainda que a África do Sul, sem ser membro do CPS, mas como presidente da UA, pode colocar questões na agenda.
"No mês passado, a ministra das Relações Internacionais da África do Sul, Naledi Pandor, disse que havia uma grande preocupação com as alegações de que os ataques terroristas de Moçambique estavam ligados ao Estado islâmico", sublinha.
O maior desafio para Moçambique e para a UA "é a falta de informação sobre quem é exatamente responsável pelos ataques", sendo que a experiência noutras partes de África tem mostrado que "o envolvimento da UA na contenção do terrorismo tem tido resultados mistos, na melhor das hipóteses".
A cimeira da última semana "reconheceu que respostas militares como a força do G5 no Sahel não tinham tido o impacto desejado. Na verdade, o terrorismo aumentou dramaticamente em muitos dos países daquela região", acrescenta.
"Dada a relutância da SADC em se envolver, resta saber se Moçambique irá participar, em maio, na cimeira especial dos chefes de Estado, na África do Sul, sobre o tema Silenciar as Armas, o tema da UA para 2020", conclui.
Os ataques armados na província de Cabo Delgado eclodiram em 2017 protagonizados por residentes, frequentadores de mesquitas "radicalizadas" por estrangeiros, segundo líderes islâmicos locais, que primeiro alertaram para atritos entre fiéis.
Nunca houve uma reivindicação da autoria dos ataques, com exceção para comunicados do grupo 'jihadista' Estado Islâmico, que desde junho tem vindo a chamar a si alguns deles, com alegadas fotos das ações, mas cuja presença no terreno especialistas e autoridades consideram pouco credível.
Os ataques já provocaram pelo menos 350 mortos e 156.400 pessoas afetadas com perda de bens ou obrigadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.
A província de Cabo Delgado é aquela onde avançam as obras dos megaprojetos que daqui a quatro anos vão colocar Moçambique no 'top 10' dos produtores mundiais de gás natural e que onde há algumas empresas e trabalhadores portugueses entre as dezenas de empreiteiros contratados pelos consórcios de petrolíferas.
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