Segundo o comunicado final dos encontros anuais do BAD, a que a Lusa teve hoje acesso, os governadores do banco, representantes de cada um dos 81 Estados-membros, apoiaram a visão para o período 2023-2032 para "construir uma África próspera baseada no crescimento inclusivo e no desenvolvimento sustentável".

O comunicado diz que a visão dá especial atenção ao crescimento económico e recuperação do continente, às lições retiradas da pandemia de covid-19, às alterações climáticas, a uma transição energética justa.

"Seletividade, fragilidade e insegurança, género, mulheres e jovens, governação económica e sustentabilidade" do banco a longo prazo são outras prioridades da visão estratégica elencadas no comunicado.

Os governadores reconhecem os "enormes desafios colocados pela persistência da pandemia de covid-19, bem como a invasão da Ucrânia pela Rússia, resultando em graves interrupções nas trajetórias de desenvolvimento" dos países africanos, "agravando as desigualdades, especialmente para os jovens e as mulheres, aprofundando a pobreza, aumentando a insegurança alimentar e aumentando o desemprego".

Apelam à "participação ativa" do BAD na conferência das partes sobre alterações climáticas (COP27) que vai decorrer no Egito no final do ano, particularmente devido ao foco da reunião em África, e ao seu apoio financeiro e político contínuo aos países africanos para enfrentar os desafios associados às alterações climáticas.

Pedem ao BAD que promova o acesso à energia sustentável e acessível para permitir que 640 milhões de africanos tenham acesso à eletricidade e encorajam-no a colaborar com a União Africana, as comunidades económicas regionais e outros bancos de desenvolvimento multilaterais, assim como instituições financeiras internacionais e parceiros multilaterais de desenvolvimento para procurar soluções sustentáveis para aumentar o financiamento climático e esforços de adaptação e mitigação das alterações climáticas.

Os governadores - ministros das finanças e governadores dos bancos centrais dos seus 81 Estados-membros -- manifestam ainda forte apoio a duas exigências que têm sido feitas pelo BAD.

Que os Direitos Especiais de Saque (DES) realocados para África possam ser distribuídos através do banco e que o Fundo Africano de Desenvolvimento, o braço concessional do BAD, possa recorrer ao mercado de capitais para alavancar cada dólar que recebe por quase quatro vezes.

Os SDR, emitidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para ajudar a amortizar os impactos fiscais da covid-19, só beneficiaram África em 33 mil milhões de dólares, de um total de 650 mil milhões.

Alguns países desenvolvidos aceitaram realocar parte dos DES que lhes cabiam, algo que ainda não se concretizou, e o BAD tem apelado a que o façam através da instituição.

Os encontros anuais do BAD decorreram durante a semana em Acra e terminaram na sexta-feira com o anúncio de que a próxima edição, em 2023, será no Egito e com um apelo comum para que África seja compensada pelas alterações climáticas provocadas por outros.

O BAD é uma entidade financeira multilateral vocacionada para financiar o desenvolvimento, cujos acionistas são os governos africanos e outros países não regionais, como por exemplo Portugal.

FPA // ACL

Lusa/fim

*** A Lusa viajou a convite do Banco Africano de Desenvolvimento ***