No momento em que as principais partes interessadas se reúnem para a Cimeira Empresarial EUA-África 2025 em Angola (23-25 de Junho), acredito sinceramente que temos uma oportunidade de ouro para acelerar a energia e as infra-estruturas de África.

Numa altura em que África está cada vez mais no centro da governação económica global, todos os elementos fundamentais estão disponíveis – o nosso trabalho colectivo consiste agora em ligá-los de uma forma que possa verdadeiramente desbloquear o potencial do grande continente a que chamamos a nossa casa.

Trata-se, evidentemente, de um empreendimento de grande envergadura e é por isso que tantos de nós nos reunimos para esta Cimeira – na qualidade de maior banco africano em termos de activos, com uma presença no terreno em 20 países e quatro centros financeiros internacionais, o Standard Bank enviou para a Cimeira uma delegação de alto nível, proveniente das nossas operações em África e em Nova Iorque.

Estamos aqui, no terreno, porque queremos desempenhar o nosso papel e, como defensores de longa data da prosperidade do continente, acreditamos que estamos bem posicionados para o fazer – o Standard Bank está em África desde 1862 e nos EUA desde 1994.

Mas qual é o desafio actual em termos de energia e infra-estruturas e como o podemos enfrentar?

Superar o défice de financiamento das infra-estruturas

Uma métrica comummente aceite em torno deste tema é que é necessário um investimento de 100 a 120 mil milhões de dólares por ano para colmatar o actual défice de financiamento das infra-estruturas em África. Estas infra-estruturas são fundamentais para o crescimento do continente que, hoje, simplesmente não atingem o nível necessário para libertar o seu valioso potencial. Se acrescentarmos a isto um défice de financiamento da energia estimado em 100 mil milhões de dólares por ano, torna-se evidente que há muito trabalho a fazer.

Há uma série de razões pelas quais o investimento nem sempre está a ser realizado – desde a percepção de instabilidade associada ao continente, à inadequação dos mercados de capitais em África, aos desafios cambiais e ao risco político. Quando observo os enormes níveis de investimento na Ásia, a questão que coloco é a seguinte: “Qual é exactamente o ambiente que está a conduzir o capital para esses mercados e como podemos criar esse ambiente em África?”. É precisamente aqui que o Standard Bank, com o seu profundo conhecimento local e alcance global, desempenha um papel crucial na redução do risco dos projectos e na ligação do capital à oportunidade.

A nossa tarefa na Cimeira e fora dela é, muito simplesmente, a de viabilizar este ambiente para que o investimento possa fluir livremente para África. Para tal, é fundamental o papel dos governos, que devem proporcionar o quadro regulamentar e um ambiente propício que possa atrair o investimento público e privado, e das instituições financeiras, em especial os bancos de desenvolvimento, que devem facilitar o financiamento necessário para que tal aconteça.

Mas há dois grandes desafios a ultrapassar. Em primeiro lugar, é urgente acelerar o acesso à energia, porque ainda há 600 milhões de pessoas em África que não têm acesso a electricidade e, em segundo lugar, há obstáculos significativos que continuam a travar o desenvolvimento de infra-estruturas – estima-se que 5% do PIB africano está a ser afectado por desafios como o acesso a água e saneamento básico, e os elevados custos de transporte aumentaram o preço dos bens em África em quase 75%. A resolução destes desafios exige uma abordagem holística e o empenhamento a longo prazo de todas as partes interessadas.

Abrir caminhos para a prosperidade

O tema da Cimeira deste ano é “Caminhos para a Prosperidade: Uma Visão Partilhada para a Parceria EUA – África”. Mais de 1000 líderes dos sectores público e privado, incluindo Chefes de Estado africanos, ministros dos EUA e de África, líderes empresariais e organizações multilaterais reuniram-se para identificar e abrir este caminho.

Mas como são estes caminhos e como é que os percorremos?

Um dos obstáculos que temos pela frente é a disponibilidade de energia em todo o continente. As economias que florescem actualmente têm recursos energéticos abundantes. Por exemplo, prevê-se que a China tenha 3.300 gigawatts (GW) de capacidade instalada de energia solar e eólica até 2030 – quase 25 vezes mais do que a África do Sul tem actualmente. A disponibilização de energia em toda a África, através de soluções como modelos de agregação e produção distribuída, pode impulsionar o crescimento do PIB, ajudar a baixar o custo da inflação e melhorar a sustentabilidade de África. Embora o desequilíbrio comercial esteja a diminuir, temos de continuar a acelerar o ritmo.

Uma tarefa a realizar em conjunto

Embora estejamos orgulhosos da nossa herança em África, também reconhecemos que uma tarefa desta dimensão não pode ser realizada isoladamente. Mais uma vez, é por isso que estamos reunidos em Angola – à volta da mesa temos funcionários governamentais, decisores políticos, bancos e empresas do sector privado que vão efectivamente impulsionar o investimento de que África necessita.

Vimos que este nível de colaboração é o necessário para desbloquear a próxima fase do desenvolvimento das infra-estruturas e da energia em África. Permitam-me que partilhe alguns exemplos do poder da colaboração em acção.

Na Nigéria, o desenvolvimento do projecto Azura – Edo Power estabeleceu a referência para a produção independente de energia e, em Moçambique e no Malawi, o projecto do corredor ferroviário e portuário de Nacala melhorou a competitividade das exportações.

Nenhum destes projectos teria sido possível sem a união de todas as partes interessadas em prol de um bem maior ou sem o financiamento de organizações como o Standard Bank, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e a Corporação Financeira Internacional para o Desenvolvimento (DFC) dos EUA. Da mesma forma, aqui em Angola, onde a Cimeira está a decorrer, vários projectos solares importantes foram impulsionados por um parceiro privado chamado Sun Africa.

Este espírito de colaboração também é necessário quando se trata de resolver a questão da transmissão de energia – com os actuais desafios em torno das linhas de transmissão, o investimento privado necessário só se concretizará se o Governo e as instituições financeiras de desenvolvimento prestarem o apoio adequado. Isto aplica-se a curto prazo, mas também ao investimento de capital a longo prazo.

Um grande exemplo disso é a Missão 300, uma iniciativa de colaboração entre o Banco Mundial, o BAD e outros parceiros que visa proporcionar acesso à electricidade a 300 milhões de pessoas, em África, até 2030. Como salientei anteriormente, este objectivo ambicioso é crucial para o desenvolvimento do continente, uma vez que o acesso à electricidade é um factor essencial para o crescimento económico, a melhoria dos cuidados de saúde, a educação e a qualidade de vida em geral.

Tempo para galvanizar

É claro que há muito trabalho a fazer e desafios que ainda nem sequer abordei, como a baixa liquidez de muitos países africanos, serviços públicos mal geridos, instabilidade política e o custo de execução, mas a Cimeira desta semana e a dinâmica que estou a ver em todo o continente dão-me uma grande esperança para o futuro da energia e das infra-estruturas em África. O Standard Bank está empenhado em impulsionar este crescimento sustentável, alavancando a nossa perspicácia financeira e promovendo parcerias fortes e de colaboração com todas as partes interessadas. Vamos construir juntos o futuro de África.

*Dele Kuti, director Global, Energia e Infra-estruturas do Grupo Standard Bank