Um ano em que o país celebrou as conquistas do referendo de há 20 anos, e posterior entrada da força internacional, mas em que os investidores, nacionais e internacionais, alertaram para os grandes desafios económicos que o país enfrenta.

A estabilidade esperada com uma maioria absoluta no Governo acabou por não se verificar, com o executivo todo o ano "com menos uma roda no carro" -- expressão do primeiro-ministro Taur Matan Ruak -- com dez membros do executivo indigitados, mas ainda por nomear pelo Presidente da República.

Depois de dois anos de contração económica -- impacto direto do menor gasto público de governos que cumpriram grande parte dos seus mandatos em regime de duodécimos -- 2019 mostrou os principais sinais de recuperação.

Ainda assim, as previsões indicam que o país só deverá regressar a níveis de crescimento pré-crise política (em 2015 e 2016) possivelmente em 2020 ou 2021.

O maior gasto público, especialmente quando o Governo conseguiu ter OGE, a partir de março, acabaram por dar algum movimento a uma economia que estava parada, com fecho de empresas, perda de empregos e alguma fuga de investidores.

Porém, a retoma ocorreu num ambiente de tensões mais ou menos regulares dentro dos três partidos da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), a coligação do Governo: o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) de Xanana Gusmão, o Partido Libertação Popular (PLP) do atual primeiro-ministro e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

A menor presença de membros do CNRT no Governo -- a maior fatia daqueles a quem o Presidente não deu posse são deste partido -- acabou por ir fazendo aumentar a tensão, com vários momentos em que se chegou a falar de remodelação e até de novas eleições antecipadas.

Essa tensão acabou por assumir maior intensidade no processo de debate orçamental, com o primeiro-ministro a enfrentar duras críticas à proposta de OGE para 2020, a maior parte das quais a surgirem precisamente das bancadas dos partidos da coligação de Governo.

Taur Matan Ruak decidiu então retirar a proposta de OGE e avançou para um processo de "cortes radicais" de quase um terço ao teto de gastos públicos, valores que estão ainda a ser fechados antes de a nova proposta voltar ao parlamento para discussão e votação.

Os cortes estão a ser delineados tendo em conta as recomendações da Comissão de Finanças Públicas do Parlamento Nacional sobre a proposta inicial do OGE, que o próprio primeiro-ministro Taur Matan Ruak tinha retirado, a meio do debate na generalidade, perante forte contestação das próprias bancadas do executivo.

Timor-Leste volta assim a terminar o ano como começou: com incertezas sobre o orçamento do Estado, tensão política e debates sobre o futuro do próprio Governo.

Ainda que, como sublinham responsáveis timorenses, num processo democrático, de debate sem violência e sem confrontos.

ASP // JPF

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