
"As pessoas precisam mais do telefone porque estão em casa", conta à Lusa o jovem moçambicano, de 27 anos, que começou a reparar telemóveis há pouco mais de um ano numa esquina do Mercado Estrela, um dos mais conhecidos locais de comércio informal da capital moçambicana.
Maúngue é um de entre vários jovens que tem apostado no negócio: "Entrei sem saber nada, nem abrir um simples telemóvel, mas fui aprendendo e gostei", conta.
Mudou-se para um bairro onde é um dos poucos a fazer aquele tipo de reparações, o que lhe permite dizer que "a covid-19 trouxe muita coisa boa", no seu caso particular.
Além de faturar mais, sente que a sua 'cell shop' (loja) tem ajudado o bairro, onde "pouquíssimas pessoas reparam telefones".
"Eu vim com essa técnica e pelo menos dei esperança a muitas pessoas que tinham os telefones guardados em casa", comentou.
Janino Vombe, de 28 anos, também repara telemóveis, mas, ao contrário do que acontece com José, permanece no Mercado Estrela e tem menos clientes.
"Muitos têm medo de sair de casa para reparar telemóveis", conta, enquanto a banca é invadida por fumo de uma outra onde se assam frangos.
Com medidas mais restritivas em vigor para prevenir a pandemia e desde que o mercado foi reorganizado, em junho, os ganhos já não são os mesmos.
"Se eu conseguir sair daqui com 500 meticais [seis euros] por dia, já é bom", indica Janino, referindo que o valor está muito abaixo dos 3.000 meticais (37 euros) que chegava a fazer por dia antes da covid-19.
As peças para a reparação e montagem de telemóveis são compradas em estabelecimentos especializados da capital, outras vezes na África do Sul, China ou Dubai.
E quando uma reparação se complica, a tarefa não é fácil.
Basta perder uma pequena peça que todo o trabalho fica comprometido, conta Janino, que já teve de pedir três dias a um cliente para juntar dinheiro e reparar os danos.
"Parti o ecrã sem me aperceber", conta o pai de uma menina de 2 anos e que vive do negócio há mais de 3.
Janino já foi serralheiro e José Maúngue teve uma empresa de decoração de eventos, mas ambos abandonaram as atividades para se dedicarem à reparação de telemóveis.
Moçambique regista, até ao momento, um total de 3.304 casos positivos de infeção pelo novo coronavírus, incluindo 20 óbitos, segundo as autoridades de saúde.
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