
"É um reputado economista, quadro do BCV e tem experiência. Estamos cientes que fará bem o cargo de governador", disse o chefe do Governo à imprensa, na cidade da Praia, durante uma Conversa Aberta com os jovens formandos e empreendedores do Centro de Energias Renováveis e Manutenção Industrial (CERMI).
O primeiro-ministro reagia assim à nomeação do ex-presidente da Câmara da Praia Óscar Santos, derrotado nas eleições de outubro, para o cargo de governador do Banco de Cabo Verde (BCV) pelo Governo apoiado pelo Movimento para a Democracia (MpD) desde 2016.
A nomeação de Óscar Santos foi criticada pela oposição cabo-verdiana, com a presidente do presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, a classificá-la como um exemplo de nepotismo a três meses das eleições legislativas.
"Será normal fazer-se uma nomeação desta envergadura a, aproximadamente, três meses das próximas eleições? E será normal que esta nomeação seja feita exatamente por quem tenha dito que o seu partido é Cabo Verde e, ainda, por quem havia prometido que iria despartidarizar a 'máquina' pública?", questionou a líder do PAICV, partido que esteve no poder entre 2001 e 2016.
O primeiro-ministro rebateu essa ideia, recordando que o país já teve ministros das Finanças dos governos do PAICV que foram posteriormente governadores do BCV, referindo aos casos de Carlos Burgo e João Serra.
"O Governo está na total plenitude das suas funções para nomear e exonerar e sem nenhumas restrições de natureza política, ética e legal para decidir sobre nomeações e exonerações", sustentou Ulisses Correia e Silva, citado pela Inforpres.
A líder parlamentar do MpD, Joana Rosa, também considerou "normal" essa nomeação do ex-autarca, entendendo tratar-se de um "economista conceituado" e que vai ser isento. "É isso que o país precisa, de gente competente em lugares também de algum interesse", disse.
Por sua vez, o presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, também oposição) classificou a nomeação como uma "afronta à democracia" e uma "atitude de desespero" do MpD.
O ex-presidente da Câmara da Praia Óscar Santos, derrotado nas eleições municipais de outubro, é o novo governador do Banco de Cabo Verde (BCV), nomeado para as funções pelo Governo, conforme resolução do Conselho de Ministros publicada na segunda-feira e que entra hoje em vigor.
De acordo com a resolução do Conselho de Ministros 03/2021, de 04 de janeiro, que a Lusa noticiou na segunda-feira, ao abrigo da Lei Orgânica do Banco de Cabo Verde, o Governo nomeou Óscar Humberto Évora dos Santos para, em comissão de serviço, exercer o cargo de governador do banco central.
Através da resolução 01/2021, o Governo recorda que o mandato do governador do Banco de Cabo Verde tem a duração de cinco anos, renovável por igual período uma só vez, mas formaliza a saída de João António Pinto Serra, que assim não renova o mandato.
"Impondo formalizar a cessação, por caducidade, do mandato do governador", lê-se na resolução.
João Serra, antigo ministro das Finanças no Governo liderado por José Maria Neves (PAICV) foi empossado no cargo de governador do BCV em dezembro de 2014, mas em 2019, quando estava no quinto ano em funções, assumiu publicamente que pretendia apenas cumprir um único mandato.
Desde 2008 que a Câmara Municipal da Praia estava nas mãos do MpD, inicialmente liderada por Ulisses Correia e Silva, atual primeiro-ministro, mas já então com Óscar Santos como número dois.
A perda da capital para o PAICV, com a derrota da lista liderada por Óscar Santos, foi a maior surpresa das eleições municipais de outubro no arquipélago.
RIPE (PVJ)//RBF
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