Num comentário divulgado na sua página oficial no Facebook ao 'ranking' publicado hoje por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), na qual Cabo Verde desceu da 27.ª para a 36.ª posição, Ulisses Correia e Silva justificou com "alguma tensão" entre esses dois órgãos independentes.

Em causa estão os casos que aconteceram no início do ano, em que jornalistas e órgãos de comunicação social cabo-verdiana revelaram peças processuais em segredo de justiça, tendo sido constituídos arguidos, o que levou a uma manifestação de jornalistas e queixas em instituições internacionais.

Mesmo assim, disse que Cabo Verde "não se revê" na análise feita pela RSF em 180 países e territórios, demonstrando, entre outros pontos, os "efeitos desastrosos do caos informacional", "regimes despóticos que controlam seus meios de comunicação", "polarização da media", "violações muito graves da liberdade de imprensa", entre outros pontos.

Neste sentido, notou que o país continua "bem avaliado" nos rankings internacionais em relação a democracia, e lidera, em África, o essencial dos rankings de desenvolvimento humano, transparência, liberdades e boa governança.

"Temos criado as condições necessárias para o reforço da liberdade de imprensa, da independência, da objetividade e do pluralismo da comunicação social e dos jornalistas", disse, afirmando que o país se destaca na região pelo ambiente de trabalho dos jornalistas.

Enumerando vários investimentos feitos nos últimos anos nos órgãos públicos de comunicação social e incentivos aos órgãos privados, o chefe do Governo disse estar comprometido para, até 2026, atingir a categoria de "boa" no índice da Liberdade de Imprensa.

Cabo Verde obteve 75,37 pontos no índice de 2022, menos do que os 79,91 que tinha no ano passado, e caiu da 27.ª para a 36.ª posição, mas ainda assim "destaca-se na região pelo seu quadro legal para jornalistas", escrevem os autores do relatório.

"A liberdade de imprensa é garantida pela Constituição. No entanto, o Governo nomeia diretamente os diretores dos 'media' estatais, que dominam a paisagem mediática", alertam.

A RSF sublinha que, ao contrário do que acontece na maioria dos outros países africanos, as mulheres representam 70% dos jornalistas em Cabo Verde.

No entanto, o reduzido tamanho das ilhas do arquipélago limita o desenvolvimento de jornalismo de investigação e, como muitas pessoas se conhecem, os jornalistas evitam muitas vezes pegar em assuntos que envolvam conhecidos seus.

Embora nenhum jornalista tenha sido detido ou colocado sob vigilância devido à sua atividade, alguns profissionais de media privados dizem ter sido ameaçados após a publicação dos seus trabalhos, ainda segundo o mesmo relatório anual.

RIPE (FPA) // JH

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