
"Não é de descurar algum interesse geoestratégico para a importância económica que a província [de Cabo Delgado] apresenta para o hemisfério sul e no xadrez mundial dos hidrocarbonetos", declarou Amade Miquidade.
Amade Miquidade falava hoje no parlamento, em resposta a perguntas dos deputados da Assembleia da República (AR) sobre a estratégia do Governo no combate aos grupos armados que protagonizam ataques há três anos na região.
"O advento dos hidrocarbonetos e, antes disso, de riquezas raras, como minerais preciosos, atraíram pessoas e grupos internacionais interessados na sua exploração desordenada", avançou Amade Miquidade.
O ministro do Interior frisou que o garimpo, caça furtiva, fragilidades na proteção das fronteiras e o oportunismo criminoso de alguns moçambicanos, aliados ao avanço das ofensivas e estratégias multinacionais, permitiram a expansão do terrorismo para Moçambique.
"O terrorismo tem uma relação com os recursos e os recursos com o terrorismo e é com este mal que lidamos", enfatizou.
Amade Miquidade assinalou que o conflito armado no norte de Moçambique é alimentado e motivado por uma dimensão criminosa bastante profunda e com ligações internacionais.
Segundo o governante, a violência armada em Cabo Delgado pode ter a mão do chamado Estado Islâmico da Província da África Central, "que recentemente realizou ataques simultâneos em Moçambique, Tanzânia e RDCongo".
"O terrorismo é uma ameaça crescente e organizada e com capacidade para explorar fronteiras porosas", salientou Amade Miquidade.
Hoje no parlamento, o ministro do Interior admitiu que o país não tem experiência no combate ao "terrorismo", defendendo o pedido de auxílio à comunidade internacional e a opção das multinacionais que estão no país por empresas de segurança privada.
"O combate ao terrorismo faz-se com uma ´expertise` [conhecimentos especializados] que não temos", declarou Amade Miquidade.
Estados com forças de defesa e segurança melhor apetrechadas são também assolados por ataques terroristas ao longo de muitos anos, acrescentou Miquidade.
"Com o agravar da situação da segurança [no norte do país], o nosso Estado tem estado a sensibilizar os seus parceiros para obter mais apoios", destacou.
A província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas.
Há diferentes estimativas para o número de mortos, que vão de mil a 2.000 vítimas.
Hoje no parlamento, o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosário, afirmou que "as ações terroristas estão a criar centenas de milhares de deslocados internos, cujo número se situa, atualmente, em mais de 435 mil pessoas".
Carlos Agostinho do Rosário avançou que mais de 10 mil pessoas que fugiram do conflito armado em Cabo Delgado chegaram à capital da província, Pemba, nos últimos dias.
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