
Malema, que lidera a terceira maior força política na oposição desde 2013 após ter sido expulso da direção da liga da juventude do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder desde 1994 na África do Sul, falava no Cabo Ocidental, onde realizou uma manifestação junto a uma propriedade vinícola do empresário sul-africano Johann Rupert, em Stellenbosch.
"Todos os brancos que têm muitas terras, propriedades e riqueza devem começar a compartilhar com o povo da África do Sul porque eles estão a perder a paciência", adiantou Malema, citado pela imprensa local.
O político sul-africano considerou que a elevada pobreza no país se deve "à exclusão da maioria negra do direito à terra", salientando que "enquanto eles tiverem a nossa terra, nunca seremos amigos".
"Não somos o Nelson Mandela da reconciliação", afirmou Malema.
O partido de Malema instou o empresário multimilionário sul-africano "a divulgar as propriedades que detém no país e a forma como foram adquiridas historicamente".
Segundo o EFF, a manifestação de hoje no Cabo Ocidental visou assinalar a data em que o explorador holandês Jan van Riebeeck "colonizou" a Cidade do Cabo em 6 de abril de 1652.
Na ótica da esquerda radical sul-africana, a chegada de Van Riebeeck ao Cabo "foi o início dos problemas do país, principalmente no que diz respeito ao direito à terra".
Malema, que tem sido acusado de fomentar o racismo contra brancos e indianos na África do Sul, assim como campanhas anti-imigração, declarou também que "os oceanos e o minério deste país pertencem à maioria negra, e devem ser devolvidos aos seus legítimos proprietários".
"Não há futuro na África do Sul sem o direito à propriedade da terra", referiu o político sul-africano, citado pela imprensa local.
A taxa de desemprego na África do Sul, a economia mais desenvolvida do continente africano, atingiu um novo recorde de 35,3% no último trimestre de 2021, segundo dados oficiais.
Se a definição "alargada" de desemprego, que inclui trabalhadores que não têm procurado ativamente emprego devido à falta de perspetivas, for tida em conta, a taxa de desemprego na África do Sul é ainda maior, chegando aos 44,4%, segundo o Governo sul-africano.
Em dezembro do ano passado, o Governo do Cabo Ocidental considerou que a decisão do parlamento sul-africano em rejeitar a emenda da Carta Magna para acelerar a expropriação sem compensação financeira põe fim às propostas "irracionais" do ANC governamental.
Deste modo, o parlamento sul-africano encerrou um processo de mais de três anos para emendar o artigo 25.º da Constituição da República, alteração pretendida pelo partido no poder.
A alteração do artigo 25.º da Constituição da República sul-africana visava permitir a expropriação sem compensação financeira por parte do Estado sul-africano.
Em 2020, o Governo do ANC submeteu também ao parlamento um projeto de Lei de Expropriação, ainda por aprovar, que visa definir os processos e procedimentos da expropriação por órgãos do Estado, segundo o parlamento sul-africano.
Todavia, o ministro da Justiça e Serviços Correcionais, Ronald Lamola, sublinhou que a emenda da Carta Magna era "um dos instrumentos" do ANC para "acelerar" a reforma agrária no país.
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