
Em conferência de imprensa realizada hoje no Mindelo, ilha de São Vicente, a administração da concessionária cabo-verdiana dos transportes marítimos de passageiros e carga, detida em 51% pela portuguesa Transinsular (Grupo ETE), lamentou os constrangimentos que estão a ser provocados nas ligações interilhas, face a problemas em três dos cinco navios da frota, que retomam o serviço apenas em agosto.
"A CV Interilhas reitera que de imediato consultou vários 'brokers' para averiguar a possibilidade de fretamento de um navio alternativo, tendo verificado indisponibilidade de navios no mercado com as características pretendidas e necessárias à operação, nomeadamente navios RO-PAX de características do navio 'Dona Tututa', capaz de aportar em todos os portos nacionais e com possibilidade de utilizar as instalações dos estaleiros da Cabnave [São Vicente]", afirmou o presidente do conselho de administração da empresa, Jorge Maurício.
O responsável acrescentou que apesar dessas consultas, constatou-se a indisponibilidade imediata deste tipo de navio, adaptado às condições em Cabo Verde e que garanta a sustentabilidade da empresa e a segurança do transporte, sublinhando que construir um navio novo implica avultados investimentos.
Já um possível novo navio para reforçar a frota e as viagens interilhas está identificado, no entanto ainda nada está definido: "Até hoje não conseguimos encontrar um navio que nos dê a garantia que precisamos, temos identificado um na Noruega, mas nos próximos dias vamos ter uma decisão muito concreta sobre o assunto".
"Os cabo-verdianos devem estar cientes de que ter um navio novo com as características que precisamos custa 13 a 15 milhões de euros e temos de o mandar fazer. Depois, isto não é compatível com as tarifas com que atualmente trabalhamos. Vamos de São Vicente para Santo Antão, pagamos 800 escudos [7,2 euros], destes, 30 escudos [27 cêntimos] vão para a taxa dos portos, seis escudos [cinco cêntimos] para taxa de regulação e ficam 764 escudos por armador [sete euros]", explicou Jorge Maurício, sublinhando que as tarifas não foram atualizadas desde 2012 para os passageiros e desde 2006 para o transporte de cargas, o que, disse, terá de ser repensado.
A medida de aquisição de um terceiro navio - desde que a CV Interilhas assumiu a concessão, em 2019 - está de acordo com as ambições do grupo no processo de renovação de frota, precisamente num momento em que três navios estão inoperacionais, colocando constrangimentos à empresa e a quase mil passageiros, devido aos cancelamentos e atrasos nas viagens interilhas, que estão a ser asseguradas apenas com dois navios.
"Sobre a avaria do 'Interilhas', a mesma veio a verificar-se mais extensa, imobilizando o navio mais tempo, durante pelo menos quatro semanas. A atividade do navio 'Interilhas' viu-se efetivamente afetada por esta ocorrência, na medida em que retirou ao sistema cerca de 42% em capacidade de transporte de passageiros e 45% na capacidade de transporte de carga", lamentou o presidente do conselho de administração.
Jorge Maurício garantiu que a realocação dos quase mil passageiros, já identificados, dos seis mil iniciais afetados por estas limitações, com viagens compradas até final de julho, acontecerá ao longo deste mês, através dos navios 'Liberdadi' e 'Praia d'Aguada'.
As ilhas do Sal e da Boa Vista são as mais afetadas pela paragem destes navios.
Lamentando os constrangimentos provocados no movimento interilhas por via marítima, Jorge Maurício reconheceu que tem havido problemas adicionais com a realocação das viagens de crianças, na medida em que necessitam de garantir que as famílias não sejam separadas nas viagens, quando, por outro lado, existe a necessidade de assegurar equipamentos de segurança a bordo.
"Na verdade, já duplicámos a capacidade de coletes salva-vidas nos navios 'Praia d'Aguada' e 'Liberdadi'. Prevê-se que a situação fique normalizada até que os passageiros com viagens em atraso sejam escoados, o que se prevê que aconteça até o final do mês de julho", assegurou o responsável.
A CV Interilhas detém a concessão dos transportes marítimos de passageiros e carga em Cabo Verde desde 15 de agosto de 2019, por 20 anos, contando na estrutura acionista também com armadores cabo-verdianos (49%), que no modelo de transportes anterior asseguravam as ligações de forma autónoma, fornecendo alguns dos navios da frota.
A CV InterIlhas realizou em menos de três anos de concessão quase 13 mil viagens e transportou mais de 1,5 milhões de passageiros.
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