"O processo em si é complexo e as pessoas às vezes possuem alguma ansiedade, e percebemos naturalmente, porque querem ver as coisas a acontecer. Um navio, assim como um avião, os seus processos e procedimentos de certificação não são de um dia para o outro, porque são complexos, devem ser muito bem escrutinados porque todos os intervenientes têm responsabilidade, principalmente na parte da segurança dos passageiros, de que não abdicamos", afirmou à Lusa Jorge Maurício, presidente do conselho de administração da CVI.

A CVI é liderada (51%) pela Transinsular (grupo português ETE) e participada nos restantes 49% por 11 armadores cabo-verdianos, tendo assumido em agosto de 2019 um contrato de concessão do transporte público marítimo de passageiros e cargas interilhas, num contrato válido por 20 anos após concurso público internacional.

O novo navio da CVI chegou a Cabo Verde em julho e deveria começar a operar em setembro, segundo previsão anterior da empresa, o que não aconteceu, continuando no cais do porto do Mindelo, em São Vicente.

Com 69 metros de comprimento, o "Dona Tututa" tem capacidade de atingir uma velocidade de 15 nós, transportando cerca de 220 passageiros e 43 viaturas ou 11 atrelados de 15 metros, devendo operar na rota entre as ilhas de São Vicente, São Nicolau, Sal, Boa Vista e Praia, viagem que deverá ser feita em 24 horas.

O navio foi batizado com o nome da pianista cabo-verdiana Epifania de Freitas Silva Ramos Évora (1919--2014), conhecida como Dona Tututa.

De acordo com o administrador, o navio está em perfeitas condições para começar a navegar - antes de adquirido pela CVI navegava entre as diversas ilhas das Bahamas e a Florida (Estados Unidos) e chegou a Cabo Verde depois da conclusão do processo de remodelação no estaleiro português Navaltagus (grupo ETE) -, está classificado internacionalmente pela sociedade Norte-Americana ABS (America Bureau of Shipping) e já está registado em Cabo Verde.

Entretanto, já foi feita a última inspeção estatutária para que tenha licença para operar de acordo com as normas marítimas nacionais.

"Nos próximos dias esperamos a inspeção final para constatarem que as pequenas recomendações já foram resolvidas e eram detalhes que não colocavam em causa a sua navegabilidade. Posso até enumerar as recomendações que têm a ver com uma peça de um radar, com um ar condicionado das instalações do comando do navio que avariou neste percurso, as pinturas da baleeira do navio que ainda tinha o nome do armador anterior, algumas pinturas de sinalização de segurança", apontou Jorge Maurício.

O administrador garante que a estrutura e o desenho do navio, bem como os sistemas de alarme e o seu motor, estão em perfeitas condições.

Admite, ainda assim, que com mais flexibilidade das autoridades marítimas locais o navio já poderia ter a emissão do certificado e da licença de operação, e em alguns dias seriam regularizadas as recomendações.

"De qualquer forma a autoridade marítima faz o seu trabalho de forma isenta, independente, com muito profissionalismo, é preciso que se diga, porque às vezes confundimos o rigor e o profissionalismo com o bloqueio, mas nem sempre é isto. Temos que nos pôr do lado da autoridade marítima, são processos complexos, a responsabilidade é enorme quando se trata de segurança de passageiros e por isso respeitamos na integra e o relacionamento é construído numa base de confiança", realçou Jorge Maurício.

Recorda que há navios que já demoraram mais do que os três meses de espera do "Dona Tututa" para conseguir o certificado navegabilidade em Cabo Verde, apesar de desejar que fosse um processo mais célere.

"Porque o navio está parado, está a ter custos, não está a ter rendimento e é a própria empresa que assume os custos. Está a ser penoso e neste caso são os acionistas da empresa que assumem esta fatura", sublinhou.

Admite que já foram feitos "enormes" investimentos na aquisição dos dois navios para a frota da CV Interilhas - além do "Dona Tututa" também o "Chiquinho BL", em 2020 -, em sistemas de segurança, criando novos postos de trabalho, bem como na logística com espaços novos para consolidação, receção e entrega de mercadorias, máquinas e equipamentos.

Garante ainda que estão a implementar nos navios o sistema ISM (International Safety Management), para garantir melhor a segurança dos navios e das pessoas.

"Também já começamos a implementar um sistema de qualidade através da ISO 9001, para termos um processo de melhoria contínua, procedimentos bem definidos, uma empresa a funcionar numa lógica empresarial, construtiva", concluiu.

SYN // PJA

Lusa/Fim