
"A companhia recorre a avales do Estado como garantia aos bancos, tendo 45,2% dos seus financiamentos avalizados, o que demonstra que esta não tem capacidade de autofinanciamento com um prémio de risco baixo", lê-se no relatório de desempenho das empresas públicas ou participadas pelo Estado relativo ao terceiro trimestre de 2022, produzido pela Unidade de Acompanhamento do Setor Empresarial do Estado (SEE).
O relatório identifica que a TACV mantém uma avaliação de muito alto risco no acesso a financiamento e acrescenta que no terceiro trimestre de 2022 -- ano marcado pela retoma da atividade -, o volume de negócios da companhia, detida pelo Estado a 90%, após a renacionalização em julho de 2021 devido às consequências da pandemia de covid-19, ascendeu naquele período a 418,4 milhões de escudos (3,8 milhões de euros), com taxa de cumprimento de 78,8% face ao previsto.
"Em linha com o aumento do volume de negócios, a retoma também teve impacto direto na estrutura de custos da companhia, uma vez que, com a operacionalização da mesma, esta viu a sua estrutura de custos aumentar acima dos 100%, face ao período homólogo. Com a suspensão da atividade aérea não se faziam necessários gastos com combustíveis, 'leasing' de aeronave, controlo de tráfego aéreo e aterragem (ATC, Handling & Landing), entre outros", acrescenta o relatório.
O capital próprio, "devido ao impacto dos resultados negativos", registou um agravamento de 13,9%, face ao período homólogo, fixando-se em mais de 12.347 milhões de escudos (112,3 milhões de euros) negativos, até setembro de 2022.
O relatório acrescenta que a rubrica "outros instrumentos de capital próprio" da TACV "beneficiou do perdão de 90% obtido nas rendas devidas à Loefleidir Icelandic", o anterior acionista da companhia, "não tendo, no entanto, sido suficiente para compensar a queda dos resultados".
Assim, o passivo aumentou 11,6%, face ao período homólogo, para mais de 13.060 milhões de escudos, correspondente a 12,3% do passivo do SEE e 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
"Estando a companhia numa situação de retoma, faz-se necessário o recurso a financiamentos para reforço da tesouraria", aponta o relatório, que analisou as contas das 33 empresas públicas ou participadas pelo Estado cabo-verdiano.
Globalmente, o relatório refere que até ao terceiro trimestre de 2022 o Estado tinha emitido avales a favor de empresas públicas no valor de 1.300 milhões de escudos (11,8 milhões de euros), um aumento homólogo de 160%, e aplicado 777,8 milhões de escudos (sete milhões de euros) em capitalizações, mais 200,7%.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da TACV por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da Cabo Verde Airlines -- nome comercial da companhia) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
O Estado cabo-verdiano, que renacionalizou a companhia em julho de 2021 devido à pandemia de covid-19, vai injetar anualmente mil milhões de escudos (9,1 milhões de euros) na TACV, para garantir a estabilidade e recuperação da companhia aérea, antes de a reprivatizar em 2024, anunciou em setembro o ministro Carlos Santos.
"Até 2024, é a nossa previsão para estabilizar a companhia, ter a companhia apetecível para poder ser privatizada", anunciou o ministro Carlos Santos, confirmando que nas contas do Governo está prevista uma injeção global de 3.000 milhões de escudos (27,3 milhões de euros), em três anos, incluindo 2022.
A TACV vai operar a partir de julho um Boeing 737-8 MAX e retomar as ligações entre Paris e Praia, São Vicente e Sal, para acrescentar ao Boeing 737-700 alugado desde março de 2022 pela companhia de bandeira cabo-verdiana à congénere angolana TAAG e que assegura as ligações de Cabo Verde a Portugal (Lisboa).
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