"Não estranho essa subida no preço dos autocarros porque em Cabo Verde tudo está caro. Agora vou ter que arranjar boleias porque andar de autocarro está difícil", afirmou à Lusa Idalina Carvalho, doméstica na Praia, de 34 anos, exemplo dos cabo-verdianos que tentam lidar com a subida das tarifas dos transportes coletivos, em vigor desde 01 de maio.

As tarifas dos transportes coletivos urbanos de passageiros são revistas anualmente e na última atualização a Agência Reguladora Multissetorial da Economia (ARME) autorizou um aumento de cerca de 5%, de 41 para 43 escudos (37 para 40 cêntimos de euro) na cidade da Praia, ilha de Santiago, e 7,5%, de 40 para 43 escudos (36 para 40 cêntimos), na cidade do Mindelo, ilha de São Vicente.

Para Idalina, este aumento, que se soma aos fortes aumentos nos combustíveis, bens alimentares e eletricidade nos últimos meses, motiva-lhe preocupação. Dificuldades partilhadas pelo estudante Vitor Santos, 21 anos, que usa os transportes públicos da Praia diariamente e queixa-se desta subida, considerando-a "desnecessária", num momento em que muitas famílias estão a sofrer com a crise.

"Corro o risco de ficar sem dinheiro, pois tenho que apanhar quatro autocarros por dia, sendo que há dias que faço mais viagens e assim o dinheiro acabará rápido", contou.

Contudo, há também quem acredite que a subida de preços agora aplicada é uma forma de justificar a falta de trocos que tem assolado os transportes públicos. É o caso de Leila Sanches, 36 anos, que à conversa com a Lusa na Fazenda, cidade da Praia, afirmou acreditar que este não era o momento "adequado" para essa subida.

"Já estavam a descontar 45 escudos [41 cêntimos] nos bilhetes de autocarro, a justificação que davam sempre é que não tinham troco", afirmou esta doméstica.

Também Djelany Dias, 26 anos, acredita que com a crise económica que Cabo Verde está a enfrentar este não era o momento para os aumentos, receando pelas famílias numerosas: "Muitos podem dizer que três escudos é pouco, mas para muitas famílias faz a diferença".

"Certamente fará toda diferença e andar de autocarro para as famílias sem condições e numerosas ficará difícil", salientou.

Globalmente, os preços em Cabo Verde aumentaram 1,2% no mês de março e acumulam uma subida de 7,6% no espaço de um ano, indicam dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) noticiados em abril pela Lusa.

Em todo o ano de 2021, foram transportados em autocarros, no arquipélago, 20.090.781 passageiros, segundo o INE, registo que compara com os 13.794.316 em 2020, que representou então uma quebra de 31,6% face a 2019.

Em 2020, o total de passageiros transportados em autocarros recuou a níveis anteriores a 2016, segundo o histórico disponibilizado pelo INE.

A oferta dos autocarros também aumentou em 2021, 13,1% face ao ano anterior, para 24.849.143 lugares, enquanto a distância total percorrida aumentou 14,2%, para 5.827.540 quilómetros em todo o ano.

Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística -- setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago -- desde março de 2020, devido às restrições impostas para controlar a pandemia de covid-19.

O país registou em 2020 uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento económico de 7% em 2021, impulsionado pela retoma da procura turística no quarto trimestre.

Entretanto, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, o Governo cabo-verdiano reviu de 6% para 4% a perspetiva de crescimento económico em 2022.

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