"É preciso dar ao continente uma nova oportunidade", afirmou Olavo Correia, no discurso de encerramento da Conferência Económica Africana, que decorreu em Santa Maria, ilha do Sal, Cabo Verde, desde quinta-feira, em que destacou a necessidade de tornar África um continente "mais resiliente".

Na sua intervenção, em que defendeu a estabilidade das instituições bem como a transparência no continente e da atuação dos seus líderes, Olavo Correia, que é também ministro das Finanças de Cabo Verde, afirmou que o setor privado "pode fazer a diferença" no processo de desenvolvimento continente e na "dinamização do crescimento inclusivo".

Reconheceu que África precisa de instituições "sólidas e comprometidas" com o interesse do continente, além de capital humano formado, mas também de infraestruturas, apesar das dificuldades de financiamento aos países africanos e do seu acesso aos mercados.

"Temos de criar as condições e fazer esse chamamento, para que os privados possam participar de forma responsável no processo de financiamento ao continente africano", apelou, sublinhando sempre que as lideranças africanas devem dar o exemplo na sua organização e credibilidade internacional.

"Se não fizermos o nosso trabalho de casa, nada do que estamos aqui a falar será realidade, ou será realidade num contexto muito restritivo que não será condizente com os desafios com os quais o continente está confrontado", afirmou.

Nesta sessão de encerramento da mais importante conferência anual económica do continente, Olavo Correia sublinhou que se vive um "momento decisivo" para as economias africanas, devido à pandemia de covid-19, que ameaça os "ganhos conquistados" nas últimas duas décadas pelo continente.

"Os próximos tempos vão ser críticos para o nosso continente. É tempo para tomarmos decisões fortes, corajosas e para mudarmos o rumo", enfatizou.

O governante reconheceu que os "elevados níveis de dívida pública" nos países africanos e as "perspetivas incertas ao nível da ajuda internacional pública, limitam as potencialidades de crescimento económico" e "a capacidade de África realizar investimentos estruturais".

"É por isso que o setor privado terá de cumprir um papel cada vez mais preponderante no desenvolvimento económico do continente africano, para que os países africanos e o continente africano possam ter uma recuperação robusta e para que possamos evitar a estagnação económica e o do aumento da pobreza", justificou.

Uma pobreza, reconheceu, "que tanto envergonha o continente", pelo que é necessário colocar todos os recursos de África para a resolver: "África não merece ter pobres e muito menos pessoas a viver na pobreza extrema".

A segunda edição da Conferência Económica Africana reuniu na ilha do Sal, durante três dias, governos, investidores e académicos de países africanos para debater os desafios do financiamento ao continente no pós-pandemia de covid-19.

O evento, realizado em formato híbrido - presencialmente e por videoconferência --, foi organizado em conjunto pela Comissão Económica das Nações Unidas para África, Banco Africano de Desenvolvimento e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

"Financiar o desenvolvimento de África no pós-covid-19" é o tema da conferência que é a principal reunião económica anual do continente.

Olavo Correia reconheceu na intervenção final a "grande contradição" de o continente continuar a "estender a mão" ao financiamento e ajudas internacionais, ao mesmo tempo que permite o "financiamento ilícito".

"Dez anos de financiamento ilícito em África, no montante que estimamos hoje, dá para financiar toda a dívida pública africana. É por isso que África é um credor líquido. Então, temos de nos esforçar para em primeiro lugar fazer aquilo que está ao nosso alcance enquanto africanos, enquanto governantes, enquanto líderes. Vamo-nos esforçar para pôr fim ao financiamento ilícito e criar as condições para que esse financiamento possa servir as pessoas", apelou.

O baixo valor de arrecadação de impostos em África, devido à "fuga e fraude" ou através de branqueamento de capitais, foi outro problema identificado no encerramento, em contraponto com as necessidades de investimento na saúde no continente.

"Este é o momento do tudo ou do nada", disse, garantindo que todos os governantes em África têm a "obrigação" de dar uma perspetiva de futuro aos cidadãos africanos.

"Ninguém vai fazer por nós o que só a nós compete fazer", concluiu.

PVJ // MAG

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