"Alguns países já estão também numa fase bastante avançada, outros provavelmente já têm tudo concluído, mas Cabo Verde é provavelmente o país com maior nível de cobertura populacional com a tecnologia DVB-T (da televisão digital terrestre)", disse à agência Lusa o presidente da Cabo Verde Broadcast (CVB), Luís Ramos.

Segundo o dirigente empresarial, outros países tentaram fazer a cobertura total da população, mas com outras tecnologias complementares. "Nós apenas com o digital terrestre vamos perfeitamente ainda este ano ultrapassar 98% da população".

Para Luís Ramos, tudo isso é um motivo de orgulho para Cabo Verde, que é o país mais difícil na região, por ser um arquipélago com cerca de 550 mil habitantes, insular, com muitos vales e montanhas que dificultam o processo.

"Somos obrigados a ter muito mais emissores, muito mais centros de transmissão e retransmissão [50 em todo o arquipélago] do que os países que são muito maiores em termos de território, mas são relativamente planos, por vezes é muito mais fácil a cobertura", explicou.

Cabo Verde é um dos cinco países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) que estão mais avançados em termos de implementação da TDT, conforme determinou a União Internacional de Telecomunicações (UIT).

Há cinco anos que a televisão analógica e a digital funcionam em simultâneo em Cabo Verde, mas desde finais de abril que o serviço analógico começou a ser desligado completamente, para dar lugar ao sinal exclusivamente digital.

O desligamento da televisão analógica começou em 23 de abril, nas ilhas do Maio de Santiago e Achada Furna, na ilha do Fogo, prosseguindo cinco dias depois em São Vicente, Sal e São Nicolau e na sexta-feira foi na Boa Vista, na Brava e em no resto da ilha do Fogo.

O "apagão" analógico vai terminar em 25 de maio próximo na ilha de Santo Antão, conhecida como a "ilha das montanhas" e que, devido à orografia do terreno, enfrenta mais dificuldades na captação do sinal.

Nas declarações à Lusa, o presidente da CVB disse que o calendário do desligamento do sinal analógico foi feito à medida que foi instalado o sinal digital, e Santo Antão foi a última ilha onde isso aconteceu, fazendo com que seja a única onde os dois serviços estão ainda em simultâneo.

Com uma percentagem de cobertura atualmente de mais de 95% da população, Luís Ramos disse que uma ou outra pessoa ainda não fez a transição, por estar a usar outro tipo de serviço, como o pago.

Em vários pontos do país os clientes ainda enfrentam alguma dificuldade em captar o sinal digital, o que tem gerado várias reclamações, mas o presidente da CVB explicou que isso tem a ver com alguns problemas, como instalações antigas nas casas, desalinhamento e não fixação das antenas ou cabo em más condições.

A CVB colocou no mercado cerca de 36.000 descodificadores (box), para facilitar a transição da rede analógica, e o líder máximo da instituição cabo-verdiana disse que muitas famílias mais carenciadas já foram contempladas, o que permitiu o sinal chegar a zonas que onde nunca as pessoas tinham visto televisão, funcionando como "fator de inclusão".

Depois do "apagão" analógico por completo no próximo mês, o presidente previu para "os próximos meses" a televisão digital estará a funcionar em pleno em todos os pontos do país.

A rede TDT de Cabo Verde tem oito canais de televisão e seis rádios à disposição, tendo sido acrescentando recentemente o canal TV Educativa, gerido pelo Ministério da Educação como plataforma de apoio ao ensino à distância, devido aos condicionalismos da pandemia de covid-19 no funcionamento das escolas e na manutenção das aulas presenciais.

A implementação da TDT em Cabo Verde começou há sete anos e segundo disse em abril de 2019 o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, o país já tinha investido 14,5 milhões de euros no processo.

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