De acordo com os resultados da venda direta apresentados hoje, na Praia, pelo diretor do Departamento de Operação de Mercado da Bolsa de Valores de Cabo Verde, Edmilson Mendonça, a procura foi maior do que a oferta, permitindo arrecadar 108.765.050 escudos (cerca de 980 mil euros), com a venda de 74.650 ações (7,65%).

Cada ação foi vendida a um preço unitário de 1.457 escudos (13 euros), o preço de referência adotado para a operação, destinada apenas a emigrantes.

Conduzida em Bolsa, a operação recebeu até 16 de dezembro último 44 ordens de compra, nomeadamente de emigrantes nos Estados Unidos da América (17), França (cinco), Alemanha (quatro), Holanda (quatro), Portugal (três), Suíça (dois) e Suécia (dois).

O lote de 44 novos acionistas da agora CVA é composto ainda por emigrantes em Angola, Bélgica, Espanha, Guiné-Bissau, Japão, Nigéria e China (Macau).

O Estado de Cabo Verde vendeu em março do ano passado 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, uma empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da agora CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).

Além desta quota de 7,65%, o Estado já tinha vendido em Bolsa, em 2019, a 91 trabalhadores da antiga transportadora aérea pública cabo-verdiana, uma quota de 2,65%, num total de 25.350 ações da atual CVA. O encaixe financeiro para o Estado foi então de 31,4 milhões de escudos (284,8 mil euros), segundo anúncio feito em setembro, sendo que o número de trabalhadores que adquiriram ações corresponde a menos de 30% do total dos cerca de 320 funcionários.

A última quota de ações ainda em posse do Estado, de 39% e equivalente a 390.000 ações, será vendida em Bolsa, a investidores institucionais, podendo representar um encaixe financeiro de mais de 568 mil escudos (5,1 milhões de euros), conforme anúncio anterior do Governo.

Em entrevista à Lusa em janeiro, o presidente da Bolsa de Valores de Cabo Verde afirmou que já há manifestações de interesse de privados suficientes para comprar essa quota de 39%.

"Neste momento há um conjunto de investidores institucionais que já manifestaram o interesse em comprar. No fundo falta só anunciar o dia [início da venda], para todos confirmarem as ordens [de compra]. Já temos o levantamento de quem são esses investidores institucionais que querem e também indicação dos valores em que estão interessados", disse Manuel Lima.

O processo de venda da última quota estatal da companhia aérea vai envolver, explicou, os canais da Bolsa de Valores de Cabo Verde e deverá ser totalmente subscrito: "Acredito que sim, atendendo às manifestações de interesse, que já cobrem os 39%".

O grupo Icelandair, que lidera a CVA, anunciou este mês que a companhia aérea cabo-verdiana deverá apresentar resultados positivos em 2021, mas necessita de contrair um financiamento de longo prazo.

A informação consta do relatório com as demonstrações financeiras consolidadas do exercício de 2019 do grupo aéreo islandês, que através da sua participada Loftleidir Icelandic EHF controla, desde 01 de março, diretamente, 36% da CVA.

A Icelandair refere que de acordo com o plano de negócios da CVA são esperados prejuízos "nos primeiros dois anos após a aquisição" e lucros em 2021. Ainda assim, e sem quantificar, o documento também aponta que os resultados operacionais da CVA no último trimestre de 2019 "ficaram abaixo das expectativas".

"A CVA está à procura de financiamento de longo prazo. Se o financiamento de longo prazo não for garantido, isso poderá afetar negativamente a operação", lê-se no relatório do grupo Icelandair, de 07 de fevereiro, que identifica receitas oriundas da companhia de Cabo Verde no valor de 37,2 milhões de dólares (34 milhões de euros) e despesas de 1,1 milhão de dólares (um milhão de euros), em 2019.

Aquele grupo insiste que vê a aposta na CVA como "um projeto de desenvolvimento de longo prazo" e que "acredita que há oportunidades" para transformar o país, através da companhia aérea, num 'hub' entre os continentes africano, americano e europeu, "e ao mesmo tempo desenvolver Cabo Verde como destino turístico".

A Cabo Verde Airlines aumentou para quase 200.000 passageiros transportados nos primeiros oito meses após o processo de privatização, um crescimento de 85,4% face ao mesmo período de 2018.

Para o Governo cabo-verdiano, a alternativa à privatização seria a sua liquidação, a qual custaria mais de 181 milhões de euros.

A companhia garante ligações do arquipélago para Dacar, Lisboa, Paris, Milão, Roma, Boston, Washington, Lagos, Fortaleza, Recife e Porto Alegre, mas a partir de 01 de março deixa de voar para Salvador da Bahia, no âmbito do processo de reestruturação de rotas.

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