
O governante justificou, assim, a opção pela venda de 51% da então Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) a investidores islandeses liderados pela Icelandair durante a primeira sessão parlamentar de março, na interpelação ao Governo agendada pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, maior partido da oposição) sobre transportes aéreos e marítimos.
"De uma empresa fortemente endividada [TACV] - 100 milhões de euros - e em quase falência, conseguiu-se criar uma nova empresa que hoje carrega o nome de Cabo Verde para os quatro cantos do mundo. Evitou-se um descalabro financeiro estimado em cerca de 180 milhões de euros, potenciou-se um mercado de aviação disponível", afirmou o ministro do Turismo e dos Transportes.
Carlos Santos acrescentou que "os dados demonstram que essa aposta do Governo foi acertada", nomeadamente com o aumento das partidas de voo em quase 97%, de 2018 para 2019, e o crescimento de passageiros transportados, de 151 mil (ainda com a TACV) para 295 mil, no último ano, já com a Cabo Verde Airlines (CVA).
Além disso, a empresa registou um aumento de 48% de 2018 para 2019 no volume de vendas, acrescentou o ministro, recordando que a atual companhia aumentou o número de aviões em Cabo Verde e das conexões -- no âmbito da criação do 'hub' aéreo na ilha do Sal -, voando para "11 cidades em três continentes".
"Os primeiros anos não serão para dar lucro, obviamente, como acontece com qualquer empresa, pois terá que pagar o empréstimo [contraído pela CVA em 2019]. O que importa é que o mercado, os bancos neste caso, acreditem na estratégia da empresa e a Cabo Verde Airlines esteja a atuar num mercado em que existe procura pelos seus serviços", afirmou o governante.
Com o processo de reestruturação da então TACV, a companhia deixou de realizar voos domésticos, entre as ilhas, e só retomou algumas dessas ligações, para servir o 'hub' do Sal e os seus voos internacionais, em agosto de 2019, uma das críticas da oposição a este processo.
"Os meandros do negócio continuaram a ser pouco claros e sem qualquer transparência, numa transação sem concurso público, onde Cabo Verde se pôs a jeito para ser manobrado e se calhar enganado por negociadores que só sabem ganhar", afirmou, na interpelação ao Governo, o líder parlamentar do PAICV, Rui Semedo.
"Só isso justifica que 51% da antiga TACV seja vendido fiado por apenas 48 mil contos [435 mil euros], enquanto que, segundo o secretário de Estado [das Finanças], Gilberto Barros, do resultado da venda do equivalente a 2,65% do total de ações aos trabalhadores [concretizada em setembro passado], o Estado teve um encaixe financeiro de 31,4 mil contos [285 mil euros]", disse ainda.
A isto, o deputado do PAICV acrescentou os resultados da venda de 7,65% aos emigrantes, concluída em dezembro, com um encaixe de 108 milhões de escudos (980 mil euros), valendo "mais de dobro do valor de 51% entregue à Icelandair".
E insistiu: "Como se justifica que os nacionais paguem mais por menos, num bem que é nosso, construído por nós".
O grupo Icelandair, que lidera a CVA, anunciou a que a companhia aérea cabo-verdiana deverá apresentar resultados positivos em 2021, mas necessita de contrair um financiamento de longo prazo.
A informação consta do relatório com as demonstrações financeiras consolidadas do exercício de 2019, do grupo aéreo islandês que através da sua participada Loftleidir Icelandic EHF controla, desde 01 de março do ano passado, diretamente, 36% da CVA.
A Icelandair refere que de acordo com o plano de negócios da CVA, são esperados prejuízos "nos primeiros dois anos após a aquisição" e lucros em 2021. Ainda assim, e sem quantificar, o documento também aponta que os resultados operacionais da CVA no último trimestre de 2019 "ficaram abaixo das expectativas".
"A CVA está à procura de financiamento de longo prazo. Se o financiamento de longo prazo não for garantido, isso poderá afetar negativamente a operação", lê-se no relatório do grupo Icelandair, de 07 de fevereiro.
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