
"Essa perceção, às vezes pela narrativa ou às vezes pelo que tem acontecido, estava a fazer com que os fluxos para o Brasil não estivessem a voltar na mesma proporção que eles voltavam em alguns países emergentes. De facto, existe essa preocupação [ambiental dos investidores]", reconheceu Campos Neto à CNN Brasil na noite de terça-feira.
A política ambiental do Governo brasileiro, que defende uma agenda de exploração massiva da Amazónia, que inclui o incentivo à agropecuária, mineração e agricultura em áreas de reserva e territórios indígenas, é alvo de críticas generalizadas fora do país.
Em junho, um grupo de 29 investidores globais assinou uma carta aberta ao Brasil, expressando preocupação sobre esta nova política ambiental.
Dados do Institute of International Finance (IIF), que reúne 450 bancos e fundos de investimento em 70 países, divulgados pelo jornal Folha de S.Paulo, indicam que já há um movimento de "fuga de investidores" estrangeiros do país.
Segundo previsões do IIF, o saldo entre aplicações e retiradas de não residentes no Brasil ficará negativo em 24 mil milhões de dólares (20,4 mil milhões de euros) este ano. Em 2019, as saídas somaram 11,1 mil milhões de dólares (9,4 mil milhões de euros).
Falando sobre esta tendência de fuga de capitais, Campos Neto frisou que "o Banco Central não é formulador desse tipo de política", mas explicou que o órgão atua para estimular conversações entre investidores e o Governo brasileiro para que se possa "alinhar uma narrativa que seja construtiva para frente".
O presidente do Banco Central também afirmou que a desvalorização do real, moeda brasileira, que perdeu quase 40% face ao dólar em 2020, foi impulsionada pela situação fiscal mais frágil do país e da subida dos gastos públicos na pandemia de covid-19.
"Há alguns trabalhos que mostram que existe uma relação muito clara entre a sua situação fiscal e o quanto você desvalorizou como moeda nos últimos três ou quatro meses", disse Campos Neto.
"Tivemos um ano atípico, com um gasto extraordinário perfeitamente justificável, mas, como o Brasil já vinha de uma fragilidade fiscal maior, [a pandemia] colocou-nos numa situação de dívida muito elevada comparada à média do mundo emergente", completou.
Hoje, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou que a dívida bruta brasileira deve ultrapassar a marca de 100% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020.
Segundo o relatório Monitor Fiscal do FMI, não há perspetiva de estabilização da relação entre endividamento e o PIB no Brasil até 2025.
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