
Complementariedade económica, cooperação empresarial e lusofonia são os três pontos-chave para reforçar as ligações económicas entre Portugal e África. Esta ideia foi defendida por N’Gunu Tiny, Chairman & CEO do Grupo Emerald e fundador do Grupo Media9, no painel ‘Desafios e oportunidades no mercado africano’, inserido na quarta edição do Growth Forum ‘The Global Commerce Exchange’, organizado pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP), que decorre esta quinta-feira, na Nova SBE e que conta com o JE, Forbes Portugal e Forbes África Lusófona como media partners, um evento que serve para refletir sobre as oportunidades e desafios do mercado africano, para além das parcerias estratégias e investimentos neste continente que estão à disposição dos gestores e empresários portugueses e das tendências geopolíticas que têm efeitos em África.
“Angola oferece hoje a Portugal uma plataforma única e estável de acesso ao continente”, afirmou, deixando contudo, o alerta de que Portugal tem de ter uma estratégia de longo prazo para África, e onde a questão da língua é uma vantagem, mas não chega. É necessário criar instrumentos que facilitem a troca de capitais entre Portugal e Angola, tal como acontece entre os países europeus”, referiu.
Sobre a complementariedade económica, o CEO destacou o facto de Portugal ter acesso ao mercado europeu, algo que “traz uma estabilidade e confiança únicas”, enquanto Angola tem recursos naturais e está a viver “um bom momento de crescimento económico”, salientando que Portugal tem também uma experiência setorial relevante, dando o exemplo de áreas como a construção.
Em relação à lusofonia, N’Gunu Tiny considerou que este fator oferece uma estrutura “mais coesa e elástica” do ponto de vista cultural, o que acaba por facilitar “uma aproximação mais genuína” entre Portugal e África.
Presente neste painel, o historiador Jaime Nogueira Pinto alertou para as “grandes divisões tribais e religiosas” que ainda afetam o continente africano. “O problema das lealdades políticas em muitos destes países ainda vai para a tribo. A vantagem de Angola é que esse lado tribal desapareceu quase por completo”, sublinhou, realçando também a situação política que se vive em Moçambique no período pós-eleições de 2024.
Para o historiador, o mundo caminha para uma época que será dominado pelos interesses dos grandes estados como a China e Estados Unidos. “Isso é uma revolução”, afirmou, assumindo que em África haverá uma quebra da chamada ajuda ao desenvolvimento e como tal a complementaridade entre África e a Europa “é muito importante”.
Já N’Gunu Tiny defendeu que aquilo que África tem para oferecer ao continente europeu é o mercado, ou seja as pessoas. “Em 2080, África terá 3.42 mil milhões de pessoas, o mundo terá 10.4 mil milhões. Três em cada dez pessoas vão estar em África”, afirmou, salientando que a Europa não se fez só com mercado, também se construiu com a democracia. “E esse é um problema para o qual as pessoas olham para África”, realçou.
Uma das componentes que poderá ajudar a revolucionar o continente africano é a Inteligência Artifical. “África pode usar a IA para dar um salto em várias etapas, onde a Europa demorou décadas”, afirmou.
Rodolfo Alexandre Reis