Ana Lisboa, CEO do Instituto Conhecimentos Sistémicos e fundadora do Movimento Feminino Moderno, participou na terceira edição da Forbes Women Summit, que decorreu na tarde da passada terça-feira no SUD, em Lisboa. Sob o tema “O Poder da Comunidade”, a especialista brasileira partilhou com a audiência a sua experiência pessoal e o que a motivou a fundar o instituto que se dedica à saúde mental feminina, e o verdadeiro poder de construir uma comunidade.

Advogada de formação e presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil na sua cidade, conta que, quando veio para Portugal fazer um mestrado, sentiu que as ruas de Lisboa já lhe eram familiares, e que o seu sobrenome não era apenas uma coincidência. “Muitas mulheres têm uma sensação de querer fugir e eu encontrei Lisboa para fazer isso. E encontrei toda essa sensação de felicidade e acolhimento e as portas foram-se abrindo”, relembra. Acrescenta, no seu pitch que se começou a conhecer verdadeiramente em Portugal, e começou a vestir-se de forma mais colorida. No Brasil apenas usava preto, com cabelo corte chanel, porque “tal como tal como muitas mulheres sentia que tinha de me vestir de determinada forma, ou fazer determinado curso para ser respeitada. Sentia que precisava ser muito forte, muito dura, muito brava”.

Como começou a sentir o poder da comunidade

E foi em Lisboa que começou aqui a sentir o poder da comunidade. “Quando comecei a observar quem eu era, longe dos olhos conhecidos, algo muito forte mudou dentro de mim. E entrei numa crise existencial. Será que eu sou eu? Eu não quero voltar, estava presa em mim mesma, eu estava a sufocar com a minha própria vida”. E começou a partilhar estes pensamentos nas redes sociais, percebendo então que muita gente estava a passar pelo mesmo, e que também procuravam uma mudança de carreira. Conforme ia partilhando a sua dor, ia criando uma comunidade que se identificava com ela. O seu projeto de terapia feminina nasceu em 2019, e hoje já tem uma universidade dedicada à saúde mental feminina presente em 72 países. “Nós olhamos muito para a saúde mental das mulheres e para o empreendedorismo, e na forma como elas lidam nas suas relações – incluímos também os homens e a família. E tudo começou com uma dor”, explica.

Porque faço o que faço? Ana Lisboa avisa: “se responder por dinheiro, vai ter um burnout rapidamente, porque o dinheiro é uma falsa sensação de segurança.

Reforça aqui a importância de ter comunidade. “Toda a comunidade precisa de um líder. Uma comunidade sem líder é bagunça. O mesmo acontece numa empresa.(…) Se vou vender doces, é preciso perceber que ninguém quer saber do teu doce. As pessoas querem saber se você é de verdade, se também sangra”, afirma.

“As marcas estão a olhar para os criadores de conteúdos como uma nova economia. E porquê? Porque eles têm comunidade. É o que você carrega que faz as pessoas querem comprar. É a sua verdade. O poder da comunidade é mostrar que o líder não é maior do que ninguém, o líder é apenas alguém que teve coragem de ir à frente para que outras pessoas se inspirarem nele e consigam acreditar que é possível”, revelou à audiência, reforçando que as marcas que não apostem na humanização, na história, não têm mais valor.

Ana Lisboa discursa na Forbes Women Summit. Foto: Marisa Cardoso
Democratizar a saúde mental das mulheres

Afirma que o seu maior sonho é democratizar a saúde mental e ajudar mulheres que se sentem presas dentro de si mesmas em histórias que não sabem se foram elas que escolheram ou não. Para finalizar a sua apresentação deixou três questões no ar, para que as mulheres e homens da audiência possam pensar nelas. A primeira foi: Porque faço o que faço? E avisa: “se responder por dinheiro, vai ter um burnout rapidamente porque o dinheiro é uma falsa sensação de segurança. E ele não vai matar a sua fome. Vai correr atrás de dinheiro e não vai conseguir”.

A segunda questão foi “quem eu represento. Se os “meus doces” não representam ninguém, eles não vão vender. Marcas que representam uma causa, são marcas que vendem. Quem você representa? São essas pessoas que se vão conectar com você”. E, para finalizar, questionou: Você acredita em você? “Muitas vezes a gente duvida. E se quero construir um império e vender produtos, tenho de construir comunidade”, finaliza.