O Benfica vai entrar na última jornada da Primeira Liga ainda com hipóteses de ser campeão. Para isso, terá somente que conseguir frente ao Braga (que não tem quase nada a ganhar, já que o FC Porto tem quase as duas mãos no terceiro lugar) um melhor que resultado que o Sporting contra o Vitória SC. O conjunto do D. Afonso Henriques ainda não garantiu a qualificação para a próxima edição da Conference League e corre o risco de ser ultrapassado pelo Santa Clara na meta da corrida.

O favoritismo está do lado da formação de Alvalade e é baseado na premissa que o Sporting levantará o troféu de campeão nacional que se escreve este texto. O Benfica (neste cenário) somará o segundo ano consecutivo sem vencer a Primeira Liga, quando conta com um plantel recheado de qualidade e com os maiores salários ao nível nacional. Rui Costa terá o seu posto ainda mais fragilizado, já que não conseguirá colocar o clube do seu coração na rota dos títulos (verdadeiramente importantes) e tem umas eleições em outubro de 2025 para tentar vencer, numa fase em que sequer anunciou a sua recandidatura.

O antigo médio não é uma figura popular no meio benfiquista neste momento e terá que inverter essa situação da maneira mais rápida possível. Tendo em conta que a Taça da Liga e a Taça de Portugal (caso seja feliz no Jamor) são títulos ‘secundários’ para os adeptos, é possível que Rui Costa tenha que realizar uma revolução. O segundo lugar justifica tal medida drástica? Na minha opinião, sim.

O projeto atual do Benfica não foi feito para ter Bruno Lage como treinador, mas sim Roger Schmidt, que conseguiu trazer resultados imediatos para o clube, mas que a longo prazo se revelou um fracasso. Apenas o último mercado foi ‘dedicado’ ao atual técnico e chegaram os seguintes nomes: Manu Silva (que se lesionou até ao final da época), Bruma, Samuel Dahl e Andrea Belotti. São elementos interessantes, mas nenhum brilhou particularmente, sendo que o ex-Braga ainda viu o seu nome envolvido em polémicas com o próprio Bruno Lage.

Rui Costa necessita de modificar o plantel do Benfica nos próximos meses e existem dois motivos para isso. O primeiro está relacionado com o capital. O Benfica necessita de vender para poder comprar, já que não tem o dinheiro da presença na fase de liga da Champions League garantido. Se ficar em segundo, terá que passar pelas eliminatórias, onde há sempre margem para surpresas. Os clubes portugueses estão obrigados a fazer uma grande venda por ano e os encarnados não são exceção à regra, existindo bons nomes que podem valer uma boa maquia para os lados da Luz. O ano passado, João Neves financiou a chegada de alguns reforços, mas o valor da sua mudança rumo a Paris ficou bem aquém do esperado, embora o mesmo seja consequência das verbas praticadas nesse mercado. A segunda razão está relacionada com a parte psicológica. Grande parte dos jogadores do Benfica vão ficar dois anos sem vencer um campeonato, numa equipa onde os adeptos são exigentes ao máximo. A somar a isto há o facto de esta temporada ter sido marcada por vários casos e uma mudança de treinador. O balneário do Benfica ficará mentalmente de rastos a partir da próxima semana (em caso de se perder o campeonato) e essa pode ser uma situação complexa de inverter, mesmo contando com especialistas na matéria.

Roger Schmidt não conseguiu mudar a tendência decrescente de 2023/24 para 2024/25 e o cenário poderá ser semelhante, desta vez com Bruno Lage na figura de treinador, que não tem o seu lugar garantido, por muito que o seu amor ao clube seja verdadeiro e que a ‘tropa’ esteja com ele. A estrutura tem aqui uma oportunidade de ouro para operar mudanças-chave para o próximo mandato, seja quem for o presidente. O projeto iniciado em 2022 está a chegar ao fim e terá que se dar início a um novo, com novas figuras e uma nova abordagem. Há nomes que estão desgastados e que seguramente não fecharão a porta a uma saída no próximo mercado de transferências, caso exista a oportunidade de rumar a um campeonato de maior nível. E isto não significa que não sejam jogadores com qualidade mais do que suficiente para estarem na Luz, mas sim que o seu ciclo chegou ao fim. Há alguns nomes que se podem inserir nesta lista: António Silva, Orkun Kokçu, Ángel Di María (este em final de contrato, com um ordenado digno de um príncipe), Florentino Luís ou Arthur Cabral. Claro que existem outros jogadores ‘dispensáveis’ e que a sua saída é dada como garantida.

O Benfica poderá ter a chance de apostar na sua formação (que conta com elementos de elevado gabarito) e contratar jogadores que marquem a diferença, além de contarem com uma personalidade forte, algo que poucos têm demonstrado pelos lados da Luz nos últimos meses. Hoje em dia, e isto não se aplica somente ao clube que abordamos, certos atletas estão mais preocupados com as suas redes sociais e a sua imagem, ao invés de darem tudo em campo, comprovando de facto aos adeptos que querem dar o seu melhor pelo símbolo que representam.

Contudo, o futuro de dois indivíduos terá que ser discutido antes de todo o processo (algo que já deverá ter sido feito nas sombras): Bruno Lage e Rui Pedro Braz. O treinador é um benfiquista ferrenho, que vai à luta pelas suas ideias e pelo seu balneário até ao fim. Porém, o segundo lugar será imperdoável, no plantel mais extenso dos candidatos ao título. Há segundas opções de grande qualidade para todos os setores e o tribunal da Luz não pode perdoar tal falha. Não nos podemos esquecer que esta foi uma temporada em que o FC Porto esteve furos abaixo do que normalmente dá e o Sporting trocou de técnico em duas ocasiões, com a figura de Rui Borges ainda a gerar dúvidas no seio leonino.

Rui Pedro Braz está longe de ser amado pelos aficionados do Benfica. Longe dos holofotes (durante vários anos contou com o direito a uma presença diária na televisão portuguesa), verá a instituição falhar o principal objetivo pelo segundo ano consecutivo, com uma política de transferências no qual ele é protagonista e ator principal. O antigo comentador acertou em vários nomes, mas falhou redondamente em outros. Longe de ser o maior culpado, poderá ser a ‘vítima’ perfeita para Rui Costa iniciar um novo projeto, entregando o departamento de futebol a um nome potente.

O presidente terá nos seus próximos meses uma prova de fogo e terá no mercado uma pré-época para o ato eleitoral, algo que os seus rivais não vão ter direito. O antigo internacional português pode reconstruir o seu plano para o Benfica e voltar a seduzir os sócios das águias, procurando os seus votos em outubro de 2025, podendo inclusivamente, aproximar a estrutura dos próprios aficionados, que são o coração de qualquer instituição.

A situação de Rui Costa está bem longe de ser a mais positiva e caso apareça um candidato de renome para o ato eleitoral, a sua continuidade no clube corre o risco de não acontecer. Os próximos meses serão fundamentais para o futuro do clube. Claro que, se o Benfica conseguir operar uma reviravolta e erga o troféu no próximo sábado, o cenário muda bastante.