
Era preciso um milagre tripartido e jogar só com o coração não chegou ao Boavista. Os axadezados, que contaram com alguns milhares de adeptos em Arouca, estão na Segunda Liga, confirmando-o com uma derrota (1-4). Um desfecho prevísivel, mas que certamente custa mais às panteras, visto que os dois terços do milagre aconteceu, este sábado, e o que faltou foi da responsabilidade própria.
Um adeus adiado, mas confirmado
Durante anos, parecia que a pantera podia tremer, mas não ia cair. Quem não se recorda da impressionante subida direta do Campeonato de Portugal, em 2014/15, até à Primeira Liga? Nessa época, comandados por um então novato Petit e com figuras como Bobô no onze — com o devido respeito, esses foram os seus únicos 11 jogos na elite do futebol português —, tudo apontava para uma descida anunciada. Mas, contrariando as previsões, foi a alma boavisteira que prevaleceu: uma mistura de raça, coragem e escolhas certeiras garantiu a permanência, selada a duas jornadas do fim.
As dificuldades, essas, nunca deixaram de rondar o Bessa. Basta recordar o verão de 2015, quando o Boavista foi forçado a trocar o seu histórico sintético por relva natural. A pressão foi tal que a própria AG da Liga se viu obrigada a criar uma norma para apoiar clubes nessa transição — embora, na prática, só um precisasse dela.
E, mesmo no meio das provações, houve momentos em que se acreditou que o «Boavistão» estava de regresso. Entre 2016/17 e 2018/19, a equipa terminou três épocas consecutivas no top-10. Houve quem falasse — e sonhasse — com voos europeus. Mas foi sol de pouca dura: rapidamente, o vocabulário do adepto boavisteiro passou a incluir expressões como «fifa bans», com demasiados mercados de transferências a passarem sem reforços.
O Boavista resistiu a tudo. Até cortes de luz teve de enfrentar. Mas no dia 17 de maio, a história voltou a ser cruel: pela segunda vez, o campeão nacional de 2000/01 caiu, desta feita por demérito desportivo.
O jogo com o Arouca terá de passar para segundo plano, mas, claro, não se pode deixar de referir o adeus à temporada da equipa do distrito de Aveiro. Um 24/25 que começou com ambições, não correu bem, mas que termina com a tranquilidade da manutenção e com esperanças para a próxima temporada.
Arouca não deu azo a esperanças

É verdade que lutou sempre e ainda reduziu para 2-1, mas pouco depois veio o terceiro golo arouquense. Curiosamente, e talvez bem complicado de gerir para os muitos adeptos do Boavista, pouco depois deste 3-1, vieram os resultados negativos de Farense e AFS que, em caso de vitória, colocariam o Boavista no playoff.
E o resto do jogo foi assim: o Boavista correu, lutou e atacou. O Arouca jogou, saiu com perigo e ia aproveitando o descontrolo emocional e o balanceamento adversário para ter vantagens quase gritantes no ataque, já que a equipa de Vasco Seabra falhou golos atrás de golos, fazendo o resultado final já nos descontos, com o golo de Nandin. Despede-se da temporada com uma vitória e com a aparente certeza de que a próxima temporada será de continuidade deste projeto.
O Boavista vai voltar a jogar Segunda Liga, algo que só fez uma outra vez. Parece inevitável que, mais cedo ou mais tarde, volte à Primeira Liga...mas muita coisa terá de mudar.