
Dentro da velha ideia de que até ao lavar dos cestos há vindima, a luta entre Tanäk e Ogier, que é como quem diz entre a Hyundai e a Toyota, durou todo o dia de sábado, terminando por KO técnico, isto é, com a avaria do sistema de assistência à direção do carro coreano que ficou virtualmente inguiável a meio da segunda passagem por Amarante, mesmo para um virtuoso como o piloto estónio.
Se já viram filmagens dentro de um carro de ralis, repararam com certeza na quantidade de voltas que o piloto dá ao volante, seja para apontar para a curva, contrabrecar ou corrigir a trajetória. Imaginem, agora, que a rodela em vez de ser leve como uma pluma passa a parecer pesar toneladas…
Ogier em modo de gestão
E lá foram os 15 segundos que Tanak trazia de avanço, a que se juntaram mais 28 perdidos no final do troço para Ogier. Este, com apenas 72 quilómetros de classificativas para disputar domingo de manhã, incluindo a famosa descida do Confurco em Fafe, está como o Sporting estava para o Benfica à entrada da última jornada: até poderia não ser campeão, mas era altamente improvável que isso sucedesse. Desta forma, o piloto francês (que faz dupla com o seu compatriota Vincent Landais) está bem encaminhado para chegar à sua sétima vitória em Portugal, ele que já tinha desempatado com Markku Alén o ano passado (ambos tinham cinco vitórias na prova).
Amarante decide uma vez mais
Uma vez mais o troço de Amarante, mesmo encurtado de 37 para 22 quilómetros, terá decidido o Rali de Portugal, como, de resto, eu aventava na crónica de ontem. O ano passado tinham sido Rovanpera e Solberg a virar as respetivas carroças no Marão e em 2018 fora o britânico Kris Meeke a levantar voo e plantar o seu Citroën no alto de um pinheiro (o que ditaria a sua rutura com a marca francesa).
Na perspetiva do espetador não havia diferença de andamento entre Tanak e Ogier. Logo às dez da manhã no gancho do Fridão (ao começo do troço de Amarante 1) ambos o despacharam num abrir e fechar de olhos, ainda que com abordagens diferentes: mais cerebral a de Ogier (que ganharia o troço) e de faca nos dentes a de Tanäk.
O salto graduado de Espindo
À tarde, por ocasião da segunda passagem em Vieira do Minho, no salto do Espindo (onde há uma escala graduada até aos 45 metros para se perceber a extensão dos voos), Ogier e Rovanpera deram mais espetáculo, voando inclinados para a direita, mas em termos de cronómetro foi Tanäk que levou a melhor. Esta zona espetáculo do Espindo (acessível a partir da N103, estrada Braga-Montalegre, cortando em Ruivães para a aldeia do Zebral) bate-se em perspetiva com a de Arganil, permitindo ver a aproximação e afastamento dos concorrentes ao longo de muitos quilómetros, num enquadramento paisagístico sem igual, o da serra da Cabreira.
Resta para este domingo a ronda de Fafe e se os auspícios forem favoráveis, espero na última crónica brindar os leitores com uma pequena surpresa.