
A última jornada da Segunda Liga trouxe um embate entre duas equipas que não confirmaram as expetativas no início da época. O Académico de Viseu, novamente com um dos plantéis mais caros e com melhores valores individuais do escalão secundário, não chegou a formalizar, em termos exibicionais e da estabilidade de resultados, a candidatura à subida.
A saída do técnico Rui Ferreira, a meio da temporada, e a entrada consequente de Sérgio Vieira mostrou que houve falhas de planeamento que traçaram a distância aos primeiros lugares.
Aliás, esta edição da Segunda Liga foi uma das oportunidades mais interessantes para a subida do Académico porque não havia um candidato óbvio aos lugares de subida, o que se traduziu numa edição extremamente competitiva e equilibrada.
Por outro lado, o Paços de Ferreira ainda conseguiu fazer pior. Uma equipa habituada no século XXI a estar na Primeira Liga deixou-se acomodar ao segundo escalão e teve uma época quase para esquecer. Para já, ter três treinadores na temporada não é, por si só, um bom sinal.
Ricardo Silva começou, fez a passagem de testemunho para Fangueiro, mas foi Filipe Cândido a terminar a época na equipa da capital do móvel. Por outro lado, a fraca produção ofensiva limitou bastante a formação pacense. Pior ataque só os dois últimos, a Oliveirense e o Mafra, mas o Paços também acabou com uma média de golos marcados inferior a um (!).
O ataque necessitava de um finalizador e Rui Fonte, apesar dos atributos técnicos e do contributo na ligação ao movimento ofensivo, não é um ponta de lança goleador.
Mesmo assim, o antigo internacional sub-21 português consegue ter os mesmos golos do que o ponta de lança do Académico, André Clóvis… claramente o avançado brasileiro está a estagnar, passou de 31 golos marcados em 2022/2023, para 13 em 2023/2024 e agora nem há dezena. Clóvis precisa urgentemente de mudar de palco competitivo para atingir o nível que chegou a atingir.
Voltando ao Paços, não se pense que é só o ataque que precisa de revolução. A defesa precisa de jogadores com maior tarimba de Segunda Liga e, apesar de Antunes e Marafona darem mística ao plantel, é preciso opções com consistência para juntarem a estes veteranos e, no meio-campo, a manta é tão curta que não dá para equilibrar o onze, onde falta capacidade para ligar defesa e ataque, com maior eficácia no capítulo do passe.
À partida da última jornada, os visitantes traziam seis derrotas consecutivas, não pontuando desde final de março. Por consequência, e fruto também de uma recuperação assinalável da Oliveirense, lanterna vermelha, em grande parte da competição, os visitantes, no em casa do Académico, acabaram por trazer a sombra da despromoção à Liga 3 e, na melhor das hipóteses, alcançar o playoff.
A vitória acabou por sorrir aos castores, os únicos com objetivos por concretizar no jogo, mas fica uma imagem negativa final das duas equipas, com muitos passes falhados a meio-campo e pouco esclarecimento no ataque.
À beira do fim, conclui-se que a revolução tem de estar à espreita no Académico e no Paços de Ferreira. No entanto, a angústia da descida ainda está presente no Paços que ainda tem de disputar o playoff de manutenção para assegurar a continuidade nos escalões profissionais do futebol português.
BnR NA CONFERÊNCIA DE IMPRENSA
Académico Viseu
BnR: Depois do golo sofrido, substituiu o Luís Silva pelo Koné [aos 26´ da primeira parte]. O que pretendia trazer de novo ao jogo?
Sérgio Vieira: O Luís não estava bem. Toda a gente viu no estádio. À semelhança do que aconteceu com outros jogadores experientes, durante esta época, foram baixando de performance. O Luís é um jogador muito experiente, já jogou na Primeira Liga, subiu o ano passado no AVS e tem outras subidas. Não era expectável, mas pode acontecer devido às circunstâncias do jogo.
A substituição foi, no sentido de tentar melhorar a nossa primeira fase de construção. Ele tinha cometido dois, três, quatro, cinco erros com bola. Não estava dinâmico. Isso pode acontecer aos melhores. Até porque no último jogo, tivemos a mesma dupla, do Samba [Koné] e do Moreno, o Moreno melhor do que o Samba em Vizela, em termos técnicos e táticos principalmente com a bola.
Este jogo tinha circunstâncias totalmente diferentes. Tínhamos de ser assumir, de ser criativos, de não darmos nada ao adversário no momento da perda de bola. Esse é o processo mais difícil no futebol. Ficou aqui constatado aquilo que nos aconteceu nos outros jogos quando nós estávamos dominadores… um pequeno erro de um ou de outro jogador… As equipas que querem ser vencedoras e andar no topo não podem ter este tipo de alternância na performance individual e coletiva.
As circunstâncias acabam por justificar, às vezes, a falta de foco deles.
BnR: Em jeito de balanço de final da época e já com alguns meses de distância, quais foram as principais dificuldades e desafios que enfrentou ao assumir o comando técnico do Académico a meio da temporada?
Sérgio Vieira: Os desafios foram juntarmo-nos como família e jogarmos como equipa. Em determinado momento, conseguimos, mas não conseguimos estabilizar a performance coletiva e individual. Tentámos estabilizar as dinâmicas, quanto ao sistema de jogo, à forma como se alcança o objetivo…esperar pelo adversário, jogar em contra ataque… ontem, o Tondela, na etapa final, teve de colocar em prática o ataque posicional para fazer os golos.
Nós tentámos ser uma equipa mais completa, não só ser forte em contra ataque… como na primeira volta, nós analisámos a primeira volta, as características dos golos marcados e sofridos… mas também uma equipa a dominar, no momento da posse.
No passado, na Segunda Liga, as equipas eram muito mais dominadoras, mais completas… muito fortes a atacar em transições, em posse e muito fortes a defender. Este ano houve uma variação muito grande entre os três primeiros classificados e, por aí, abaixo.
O desafio foi tentar sermos uma equipa muito forte durante todos os momentos, como um verdadeiro candidato à subida deve ser. Infelizmente não conseguimos. Tivemos muito jogos em que estávamos bem e chegávamos à vantagem, mas, numa transição, o adversário fazia golo.
A responsabilidade de não ter acontecido e de sermos muito melhores é de todos. Se andarmos no futebol, é para vivermos momentos como o Tondela e o Alverca. Infelizmente, sem vitórias, não conseguimos passar outro tipo de mensagem para a sociedade. Fica a aprendizagem para o futuro.
Paços de Ferreira
BnR: Em dois [Leiria e Felgueiras] dos três jogos orientados por si, o Paços chegou à vantagem, mas acabou por sofrer a reviravolta. O que mudou neste jogo para conseguir segurar a vitória?
Filipe Cândido: Bem, todos eles são adversários diferentes. É verdade que, nos jogos em casa, entrámos na frente no marcador. Em Alverca, a equipa fez um jogo tremendo e não foi nada merecido nem termos tirado um ponto desse jogo.
Neste jogo, houve consciência na forma como somos capazes de gerir o próprio jogo. Quando estamos a jogar perante os nossos adeptos, a ansiedade pelo ónus da posição que ocupamos que faz com que muitas vezes os adversários se aproveitem.
Nesta divisão, é extremamente difícil, quando uma equipa entra em vantagem, de reverter o resultado. Nós tivemos duas situações opostas, muito pelo momento que a equipa atravessa. Também não esqueço que, durante este período, tivemos algumas limitações nas opções e ficámos privados de um ou outro jogador que tem sido importante.
Não ficámos condicionados só ao momento defensivo. Sabíamos que, pela forma como construía o Académico, iam em alguns momentos ter zonas para podermos ganhar bola e explorar as transições ofensivas.
Penso que a equipa podia ter feito o 0-2, no início da segunda parte e tranquilizar todos. Depois, foram estoicos e bravos. Sabiam da responsabilidade e lutaram até ao fim. Feliz pelos jogadores e pela forma como se têm entregue. Agora é preparar o próximo jogo [playoff de manutenção].