
"Com a intensificação da guerra em Cabo Delgado, que assumiu os contornos de guerrilha tornando-se mais difícil de a conter, o controlo migratório e a fiscalização das fronteiras ficaram mais frágeis. Isto abriu espaço para os traficantes reforçarem a sua ação", lê-se numa nota do CDD distribuída à comunicação.
Em causa estão os ataques armados protagonizados por grupos classificados como uma ameaça terrorista e que já provocaram a morte de mais de mil pessoas naquela província do norte de Moçambique.
Para o CDD, a falta de meios para fiscalização marítima deixa desprotegida parte importante da costa moçambicana, incluindo Cabo Delgado, o que é aproveitado como uma "autoestrada pelas redes de tráfico de droga".
"A droga contorna os países com o controlo mais apertado e procura as rotas desguarnecidas, ainda que as distâncias sejam longas, ainda mais porque a covid-19 conduziu à interrupção do transporte aéreo e restringiu a circulação de pessoas, empurrando a droga para as rotas marítimas", acrescenta-se na nota do CDD.
Em setembro do ano passado, o Escritório das Nações Unidas Contra a Droga e o Crime (UNODC) alertou que Moçambique tornou-se num corredor de grandes volumes de substâncias ilícitas, principalmente heroína, defendendo uma maior cooperação internacional para a prevenção.
"Após a melhoria das capacidades de aplicação da lei marítima pela vizinha Tanzânia e no Quénia, apreensões recentes sugerem que um grande volume de produtos ilícitos está a ser agora traficado por Moçambique", declarou, na ocasião, César Guedes, representante do UNODC no país.
Segundo o CDD, além do tráfico de drogas, com a violência armada em Cabo Delgado, casos de extração ilegal de pedras preciosas e a imigração clandestina aumentaram na região.
"Frequentemente, as autoridades de migração neutralizam grupos de imigrantes ilegais, estimando-se que no ano passado foram expulsos mais de seis mil, só em Cabo Delgado", acrescentou.
Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
O número de deslocados internos devido à violência no norte de Moçambique duplicou desde março e já ascende a 250.000 pessoas, segundo a mais recente informação do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, sigla inglesa).
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