A informação foi hoje avançada à agência Lusa, pelo coordenador do Programa das Doenças Tropicais Negligenciadas, Pedro Van-Dúnem, que este ano concluiu a primeira fase do mapeamento de doenças como a oncocercose ou cegueira dos rios, da elefantíase ou 'pé de elefante', da dranculiase ou verme-da-guiné, da hematúria ou bilharziose intestinal.

A conclusão do mapeamento destas doenças nas províncias de Luanda, Huambo, Bié, Benguela, Cuanza Sul, Cunene, Namibe e Huíla, foi referenciado no discurso de fim de ano do ministro da Saúde de Angola, José Van-Dúnem, como um dos ganhos alcançados em 2015.

Segundo Pedro Van-Dúnem, a primeira fase do mapeamento permitiu concluir que a oncocercose não é uma preocupação além da província do Bié, em outras que não quis indicar.

O responsável adiantou que de uma maneira específica há já uma noção da situação da oncocercose nas províncias já mapeadas.

"Só que, infelizmente, como é da família das filárias, a intervenção para o controlo obedece a critérios. Portanto, o medicamento não pode ser administrado numa área onde existem as três filárias (oncocercose, dranculiase e loase) ao mesmo tempo e existem províncias nesta condição, onde as pessoas têm co-infecções", referiu.

Pedro Van-Dúnem explicou que a administração do medicamento para o controlo da oncocercose pode provocar efeitos secundários graves, muitos deles mortais.

"Então, se administrarmos os medicamentos nestas condições e houver efeitos secundários graves, depois as pessoas no país acabam por rejeitar o medicamento, esta é a grande questão", reforçou aquele especialista.

Ainda com relação à oncocercose, o responsável disse que a presença dessa endemia em algumas províncias tem de ser articulada com outros pormenores, como a presença do seu vetor, de parasitas nas pessoas e do conhecimento por parte dos residentes na comunidade.

"Acontece que há localidades onde não encontramos a mosca. Muitas das vezes, as pessoas podem ter a doença e não ser daquela zona, podem ser pessoas que vão para ali trabalhar e depois saem. Não podemos pois afirmar que a doença é daquela zona então isso requer um bocado de análises técnicas e discussões, para podermos tomar algumas decisões", frisou.

Relativamente às parasitoses intestinais, o coordenador do programa referiu que elas estendem-se por quase todo o país, numa proporção mais ou menos igual, "mas não deixam de ser endémicas em quase toda a região".

"Por causa dos rios e os hábitos que as pessoas têm de fazer as suas necessidades - urinar e defecar - nos rios e nas lagoas, que contaminam os caracóis e assim criam o ciclo da doença", disse.

A segunda fase do trabalho deverá arrancar já em janeiro, possivelmente nas províncias do Uíge e do Zaire, no norte de Angola.

A pesquisa realizada por um grupo de 60 técnicos de saúde angolanos, numa perspetiva de eliminação da doença, é o primeiro do género que Angola realiza desde a sua independência em 1975.

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