"Venham ver como fica a escola num dia de chuva", diz Ana Mugabe, diretora do estabelecimento que acolhe cerca de mil alunos, mostrando as fotos no telemóvel, num registo recorrente de outubro a abril.

As marcas na parede mostram que já chegou a meio metro de altura: além da água que entra pelas infiltrações no teto, "os moradores na vizinhança destroem a vedação da escola para escoar a água estagnada nas suas residências", lamentou a diretora, Ana Mugabe.

A escola fica num bairro suburbano da capital de Moçambique, Maputo, junto ao aeroporto internacional, uma zona com problemas crónicos de saneamento e urbanismo, dos quais as escolas também são vítimas.

"No ano passado chegámos a deixar as crianças num outro colégio por uma semana", conta Ana Mugabe, acrescentando que a deslocação "atrapalhou o processo de aprendizagem", mas foi uma forma de garantir que o ano letivo não se afundava.

Só na presente época chuvosa, mais de 600 salas de aula em 47 escolas de todo o país já foram afetadas por inundações, de acordo com as autoridades moçambicanas.

O ano letivo terminou em dezembro e na terça-feira, 04 de fevereiro, arranca um novo, com problemas antigos para enfrentar.

O Governo anuncia investimentos e o Presidente da República, Filipe Nyusi, dirigiu a cerimónia de abertura do ano letivo, na sexta-feira, na província do Niassa, a mais afastada de Maputo, numa escola requalificada.

Mas os esforços necessitam de reforço, porque continuam à vista o teto e chão esburacados, janelas partidas, falta de iluminação e pintura gasta, problemas que são comuns a várias escolas da cidade de Maputo.

A poucos metros de Mavalane A, na zona alta do bairro, localiza-se a escola primária B que apresenta as mesmas deficiências, das quais se destaca a falta de iluminação.

"Só temos luz na sala um e dois. Nas restantes não temos corrente", desabafa Jorge João, professor.

Sentados à sombra dos ramos imponentes de uma mangueira, os docentes daquela instituição não desistem e fazem os preparativos do ano letivo, enquanto o pessoal de limpeza cuida das salas empoeiradas devido à falta de janelas.

Nem tudo é mau: o número de carteiras é suficiente para todos os alunos, o que não acontecia há alguns anos.

"O Governo não permite que as crianças sentem no chão. Temos carteiras suficientes", declara Ana Mugabe.

O mesmo não se pode dizer sobre a escola Primária do Alto Maé, no centro de Maputo, que ainda aguarda pela resposta a um pedido de 70 carteiras para duas salas de aula, que se encontram vazias.

A escola, construída em 1914, é uma instituição de referência a nível da capital de Moçambique, mas não escapa a alguns dos problemas das escolas suburbanas.

"A Escola está cansada. Ela reclama por reabilitação total", disse Alberto António, diretor da escola primária do Alto Maé.

O responsável queixa-se da falta de manutenção, numa escola que ainda preserva a estrutura colonial, sendo que as infiltrações são uma das maiores preocupações, pois até podem colocar em risco a integridade física dos alunos.

"[Mais uma chuva e] o teto desaba. Já não é seguro", adverte Alberto António.

Os diretores foram unânimes ao afirmar que as escolas já receberam livros e têm as listas de alunos organizadas para as aulas que arrancam na próxima semana - o Governo anunciou a aquisição de 18,5 milhões de livros para distribuição gratuita.

"Estamos a arrancar sim senhora, mas temos dificuldades", concluiu Alberto António.

O Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano de Moçambique conta com 8,4 milhões de alunos no novo ano letivo, um aumento de 4,7% em relação a 2019.

Cerca de um milhão frequentará o ensino secundário, enquanto a maioria são alunos do ensino primário (do primeiro ao sétimo ano de escolaridade).

O Ministério contava contratar 12.894 professores, mas dificuldades financeiras só lhe permitiram contratar metade deste número, esperando suprir o défice logo que houver disponibilidade por parte do Ministério da Economia e Finanças - o que tornará possível reduzir o rácio dos atuais 65 alunos por professor para 62.

RIZR // VM

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