
A terceira edição do Relatório sobre Estatísticas do Trabalho Migrante em África, divulgado esta semana, conclui que o número de trabalhadores migrantes no continente aumentou de 9,5 milhões em 2010 para 14,5 milhões em 2019, o que equivale a uma taxa anual de crescimento de 4,8%.
Esta taxa é maior do que a taxa anual de crescimento da população africana, que foi 2,7% no mesmo período.
"Nesse sentido, seria aconselhável adotar políticas laborais desenhadas para assegurar que o continente como um todo consegue responder à procura de oportunidades de emprego por parte da força de trabalho migrante", escrevem os autores do relatório.
Sobre a paridade de género, o relatório conclui que, em média, apenas 38% dos trabalhadores migrantes entre 2010 e 2019 são mulheres, o que significa que a desigualdade é maior entre os trabalhadores migrantes do que na força de trabalho africana em geral, onde a proporção de mulheres foi de 45% no mesmo período.
Os autores do estudo admitem que o grande número de mulheres migrantes envolvidas no trabalho informal, em cuidados não remunerados e no trabalho doméstico podem explicar parcialmente esta discrepância.
Ainda assim, sublinham que o equilíbrio de género entre os trabalhadores migrantes melhorou ligeiramente, de 37% em 2010 para 39% em 2019.
"Isto pode apontar para um crescente número de mulheres a migrar independentemente para trabalhar noutros países africanos", escrevem.
Em termos gerais, o número de migrantes internacionais em África tem aumentado consistentemente, alcançando em 2019 um total de 26,3 milhões, quando em 2010 era de 17,2 milhões.
Embora o número de migrantes internacionais tenha aumentado significativamente nas últimas décadas, a sua proporção na população total do continente tem-se mantido relativamente constante.
Com efeito, os migrantes constituem apenas cerca de 2% da população africana, segundo o relatório.
Dos 26,3 milhões de migrantes internacionais existentes em África em 2019, o estudo diz que 20,2 milhões (77%) estão em idade laboral e, desses, 14,5 milhões estão na força de trabalho.
Dos 14,5 milhões de trabalhadores migrantes em África, os jovens (entre 15 e 35 anos) eram 6,7 milhões em 2019.
A migração laboral que envolve africanos ocorre sobretudo dentro do continente e resulta da perceção da falta de oportunidades de emprego no país de origem e pela abundância (real ou percebida) de oportunidades no país de destino, explica o estudo.
As sub-regiões da África Oriental e Ocidental acolhem juntas mais de metade (58%) dos migrantes internacionais do continente, com mais de sete milhões de migrantes em cada.
A África Austral acolhe 23%, África Central 12% e o Norte de África 7%.
Para esta edição do relatório, os investigadores da União Africana receberam dados específicos de 10 países (Cabo Verde, Camarões, Chade, Egito, Libéria, Mali, Namíbia, Níger, Nigéria e Seychelles) sobre o número total de empregados e de migrantes na força de trabalho em 2018.
Com exceção da Nigéria, a maioria dos migrantes empregados nestes países eram homens e o setor agrícola - que inclui agricultura, florestas e pescas - era o maior empregador de migrantes, dando emprego a 27,5% dos trabalhadores migrantes.
A maioria dos migrantes internacionais empregados nestes países têm ocupações de média qualificação, como trabalhadores agrícolas, das pescas, operadores de máquinas e montadores.
O volume das remessas enviadas por migrantes internacionais em África e por migrantes africanos a viver e a trabalhar fora do continente aumentou de 55,6 mil milhões de dólares (49,2 mil milhões de euros) para 86,4 mil milhões de dólares (76,5 mil milhões de euros) entre 2010 e 2019.
FPA // VM
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