O mandatário da candidatura de Gouveia e Melo à Presidência da República, Rui Rio, defendeu este sábado à noite que o país precisa de um presidente que "não se perca no comentário avulso", mas aposte no que é "nobre e estruturante".

"Portugal precisa de um Presidente da República que não se perca no comentário avulso e conjuntural, em detrimento do que é verdadeiramente nobre e estruturante", defendeu, num jantar de apoio a Gouveia e Melo, onde foi anunciado como mandatário nacional da sua candidatura à Presidência da República.

Para Rui Rio, o país precisa de um chefe de Estado "que não se feche no Palácio de Belém e aproveite a comunicação social para falar com os portugueses, mas que não caia na tentação de fazer dela um modo de vida".

"Precisamos de um Presidente com dimensão e sentido de Estado, condições essenciais para um exercício pleno das suas funções: para ser o verdadeiro guardião do regular funcionamento das instituições democráticas, o árbitro e moderador entre poderes, e, fundamentalmente, a entidade de último recurso da vida nacional, porque reconhecidamente livre, isento e independente", salientou o ex-líder do PSD.

No seu discurso, o também antigo presidente da Câmara do Porto fez um diagnóstico a vários temas da vida nacional, considerando, "com toda a frontalidade", que "têm faltado na política portuguesa" coragem e competência.

"Tem faltado sentido de responsabilidade para reformar o que, há muito, sabemos que tem de ser reformado, que é o mesmo que dizer que precisamos de coragem política para combater os interesses instalados, que prejudicam o interesse coletivo e agravam as injustiças sociais", disse.

Rui Rio enumerou a "evidente degradação dos serviços públicos, a asfixiante burocracia, a baixa produtividade da economia, os fracos salários, a escassez de poupança e de capital, o exagerado nível da despesa pública, a carga fiscal que não para de aumentar e alimenta muitas vezes políticas eleitoralistas".

"O endividamento excessivo, o preço da habitação, os graves problemas do SNS [Serviço Nacional de Saúde], as falhas da nossa escola pública, o desgoverno na política de imigração ou a falta de uma efetiva defesa do consumidor" perante quem "abusa da sua posição dominante" foram mais alguns dos problemas mencionados por Rui Rio.

Para o ex-líder do PSD, "tudo isto é resultado da falta de coragem para mudar estruturalmente o que há muito já devia ter sido mudado".

"É o resultado de uma cultura política virada para o 'marketing' e para o curto prazo, em lugar de se fixar no horizonte, ou seja, no futuro de todos nós", vincou.

Rui Rio apontou ainda a "falta de diálogo democrático, geradora de instabilidade e de mesquinhos ódios partidários que têm extremado a vida política nacional", através da importação "para a esfera política dos excessos de hostilidade e de linguagem" do futebol, o que revela uma "evidente falta de cultura democrática".

"A incapacidade de subordinar os interesses instalados ao superior interesse público tem sido a principal razão para o enfraquecimento do regime e, por consequência, para o germinar de alguma desilusão que se tem apoderado de muitos portugueses, e que se tem expressado de forma evidente nos últimos atos eleitorais", apontou ainda.

Rui Rio disse também que o país "não pode continuar a adiar uma profunda reforma da Justiça", rejeitando "julgamentos populares por inadmissíveis quebras sistemáticas do segredo de Justiça".

"Os julgamentos fazem-se nos tribunais e não nas páginas dos jornais", vincou.

O ex-autarca do Porto apontou ainda à "batuta do centralismo", defendendo "descentralizar e desconcentrar" a gestão territorial do país e "mudar o quotidiano" dos partidos políticos, "abrindo-os à participação livre e efetiva dos cidadãos".