
"Se estivermos certos de qual é a nossa missão e concentrarmo-nos na nossa política de diversidade e internacionalização e se conseguirmos provar ao mundo que podemos levar a cabo o intercâmbio internacional ao mesmo tempo que reconhecemos a soberania [chinesa], então qual é o problema?", defendeu Joseph Lee Hun-wei.
Lee, à frente da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau desde janeiro de 2021, nasceu em Xangai, cresceu em Hong Kong e formou-se em Engenharia Civil pelo Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.
Regressado a Hong Kong, nos anos 1980, ocupou vários cargos de liderança em instituições de ensino superior locais.
Em entrevista à Lusa, o académico recordou ter acompanhado de perto as manifestações antigovernamentais de 2019 naquela região, que, como sublinha, "afetaram a saúde" da cidade "de uma forma muito séria".
"O que aconteceu em Hong Kong é claro para mim, foi ilegal, eu passei por isso e não me senti seguro", recordou.
Após os protestos, que começaram com a contestação à aprovação da lei da extradição, mas que evoluíram para a exigência popular de reformas democráticas, Pequim impôs uma lei sobre a segurança nacional.
Mais de 180 pessoas foram presas nos últimos dois anos, após a entrada em vigor da nova legislação e os ecos das mudanças em Hong Kong também chegaram a Macau, onde recentemente o discurso sobre o reforço do patriotismo e do amor à pátria tem estado presente em praticamente todos os setores da sociedade, começando pelos dirigentes políticos.
À semelhança de Hong Kong, também em Macau os candidatos parlamentares pró-democracia foram afastados das últimas eleições por não serem considerados patriotas.
Questionado pela Lusa se os últimos acontecimentos nas duas regiões autónomas estão a afetar a liberdade académica em Macau, Joseph Lee relembrou que se vive atualmente uma conjuntura "geopolítica complexa" e que enquanto presidente de um organismo internacional - a Associação Internacional de Engenharia e Pesquisa Hidroambiental - "esta tensão e mal-entendidos" são percetíveis.
No entanto, o presidente da MUST frisou que Macau "é bastante diferente" de Hong Kong. E explicou: "O que me apercebi nos últimos 15 meses é que as pessoas aqui, em geral, têm um melhor entendimento da China continental", sublinhou.
Na MUST, exemplificou ainda o presidente, começou a hastear-se a bandeira chinesa três vezes por ano "antes de 2019, ainda antes de se impor essa regra".
"É porque sentimos que Macau é parte do país", explicou.
Joseph Lee admitiu "apoiar a diversidade e a liberdade académica", mas chamou a atenção para a existência de "áreas cinzentas".
"E depende por vezes realmente da interpretação e da perceção. Mas eu diria, no geral, que Macau ainda é muito diferente da China Continental, e nós operamos nesse espaço da história, do tempo e fazemos o nosso melhor como ponte entre o Oriente e o Ocidente", disse.
A China assumiu a administração de Hong Kong em 1997 e a de Macau dois anos mais tarde, atribuindo às duas cidades o estatuto de Região Administrativa Especial durante 50 anos, à luz do princípio "um país, dois sistemas", com um elevado grau de autonomia.
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