"A maior parte das bases onde estes terroristas se preparavam estão todas em Mocímboa da Praia e, por isso, o trabalho ainda está em curso. Nós ainda não podemos aconselhar a população a regressar", disse à Lusa Valige Tauabo, à margem da inauguração de um sistema de rede elétrica no posto administrativo de Ncumpe, na província de Cabo Delgado.

No total, segundo dados oficiais, cerca de 62.000 pessoas, quase a totalidade da população, abandonaram a vila costeira devido ao conflito nos últimos quatro anos, com destaque para as fugas em massa que ocorreram após a intensificação das ações rebeldes em junho de 2020.

Após mais de um ano nas "mãos" de rebeldes, Mocímboa da Praia, uma das poucas zonas urbanas da província de Cabo Delgado, foi saqueada e quase todas as infraestruturas públicas e privadas foram destruídas, bem como os sistemas de energia, água, comunicações e hospitais.

A ofensiva das tropas governamentais ganhou vigor em julho do ano passado, com o apoio de forças de Ruanda e, posteriormente, da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitindo aumentar a segurança e recuperar várias zonas.

Segundo o governador de Cabo Delgado, as forças governamentais desdobram-se em operações para garantir a estabilidade em Mocímboa da Praia e a prioridade é encontrar os líderes dos grupos armados.

"Os cabecilhas destes grupos gradualmente estão a ser neutralizados", declarou Valige Tauabo, frisando que o retorno das populações em Mocímboa da Praia depende da criação de condições de segurança.

A vila costeira foi a primeira a ser atacada por grupos armados que atuam em Cabo Delgado, em outubro de 2017, tendo sido, por muito tempo, descrita como a "base" dos rebeldes.

Mocímboa da Praia está situada 70 quilómetros a sul da área de construção do projeto de exploração de gás natural, em Afungi, Palma, conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

O conflito já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

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