
A procuradora-geral de Israel afirmou existirem "sérias suspeitas" de "viciação" do processo de nomeação do novo diretor da Agência de Segurança Interna (Shin Bet) pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
"Há sérias suspeitas [de que Netanyahu] actuou em conflito de interesses e o processo de nomeação está viciado", afirmou na noite de quinta-feira Gali Baharav-Miara, que é também conselheira jurídica do governo.
A declaração sugere que a nomeação do major-general David Zini, anunciada pouco antes, será contestada no Supremo Tribunal.
Netanyahu afirmou na véspera que tenciona nomear o novo diretor do Shin Bet, apesar de a procuradora-geral ter expressado oposição.
"O Governo de Israel, sob a minha liderança, nomeará o chefe do Shin Bet", disse Benjamin em conferência de imprensa em Jerusalém, a propósito da saga política e jurídica criada pelo afastamento de Ronen Bar, num caso que envolve suspeitas de corrupção no gabinete do primeiro-ministro.
Uma organização não governamental pró-transparência declarou também na quinta-feira que tenciona contestar no Supremo Tribunal a nomeação por Netanyahu para o Shin Bet.
"Este é um teste crucial para o Estado de direito em Israel", escreveu o Movimento para o Governo de Qualidade no X, referindo-se ao facto de Netanyahu ter desafiado a lei ao contrariar a proibição de nomear um novo chefe do Shin Bet.
O Movimento anunciou que "não ficará indiferente a esta ação descarada" e que nos próximos dias apresentará um novo recurso ao Supremo Tribunal de Justiça contra esta nomeação "inválida", resistindo "firmemente às tentativas de desafiar o sistema judicial".
Esta declaração colide com uma ordem da procuradora-geral israelita, que proíbe Netanyahu de nomear um sucessor para Ronen Bar no Shin Bet, depois de o Supremo Tribunal ter decidido que a demissão foi "contrária à lei" e estava minada por um conflito de interesses do chefe do Governo.
"Portanto, [o Governo] deve abster-se de qualquer ação relacionada com a nomeação de um novo chefe do Shin Bet até que sejam elaboradas diretrizes legais", considerou Gali Baharav-Miara em comunicado.
O Supremo Tribunal israelita considerou que a demissão do diretor do Shin Bet, em 21 de março, foi tomada através de "um procedimento irregular e contrário à lei".
Nesse sentido, "existe um potencial tangível para um conflito de interesses entre o interesse pessoal do primeiro-ministro e o dever público", disse o presidente do Supremo Tribunal, Yitzhak Amit.
Ronen Bar anunciou em 28 de abril a intenção de renunciar ao cargo no dia 15 de junho. Dois dias depois, o Governo israelita reverteu a decisão de o despedir.
O líder dos serviços de informações internas tinha sido afastado em plena disputa com Benjamin Netanyahu, que é acusado de interferência política e autoritarismo neste processo, alvo de vários recursos da oposição, de organizações não-governamentais e da procuradora-geral, que alegou tratar-se de uma decisão ilegal que ameaçava gravemente a democracia.
Na conferência de imprensa, a primeira em cinco meses, o líder israelita defendeu-se das suspeitas relacionadas com o "Qatargate" e disse não ter recebido "um único shekel" [moeda israelita] do país.
Em março, Netanyahu testemunhou no caso "Qatargate", após a detenção dos assessores Eli Feldstein e Yonathan Urich por pagamentos recebidos de Doha para disseminar uma imagem favorável do país árabe na imprensa israelita.
Uma investigação do Shin Bet mostrou que o Qatar enviava cerca de 30 milhões de dólares (cerca de 26,5 milhões de euros) por mês para a Faixa de Gaza e que esses valores acabavam no braço armado do Hamas, com a aprovação dos governos de Netanyahu.
Em novembro de 2023, após o ataque dos islamitas no sul de Israel, que desencadeou a Guerra na Faixa de Gaza, o líder israelita afirmara que estas informações eram falsas.
No seguimento da ação sangrenta sem precedentes do Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul do país, onde fez cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, Netanyahu responsabilizou o diretor do Shin Bet pelo fracasso dos serviços.