O cineasta e dissidente iraniano Jafar Panahi foi galardoado com a Palma de Ouro no Festival Internacional de Cinema de Cannes pelo filme "Um Simples Acidente", rodado em segredo, anunciou a organização.

O cineasta, de 64 anos, conseguiu deslocar-se a Cannes pela primeira vez, em 15 anos, para receber o seu prémio, entregue pela atriz Juliette Binoche, que presidiu a um júri composto pela atriz americana Halle Berry, a realizador a indiana Payal Kapadia e a atriz italiana Alba Rohrwacher.

O realizador e produtor congolês Dieudo Hamadi, o realizador sul-coreano Hong Sangsoo, o realizador mexicano Carlos Reygadas, o ator norte-americano Jeremy Strong e a escritora franco-marroquina Leïla Slimani também integraram o júri.

"Un Simple Accident" ("Um Simples Acidente") é um ´thriller´moral que examina o dilema de antigos detidos tentados a vingar-se do seu torturador, num ataque direto à arbitrariedade das forças de segurança.

O filme é também uma reflexão sobre a justiça e a vingança perante a arbitrariedade.

Na cerimónia de atribuição dos prémios, o realizador iraniano apelou à "liberdade" do seu país.

"Penso que este é o momento de pedir a todas as pessoas, a todos os iranianos, com todas as opiniões diferentes, em qualquer parte do mundo, que ponham de lado (...) todos os problemas, todas as diferenças. O mais importante neste momento é o nosso país e a liberdade do nosso país", declarou em farsi, de acordo com a tradução fornecida pelo festival.

Panahi, que esteve preso duas vezes no Irão - uma delas seis anos e vinte anos proibido de filmar -, país de onde não podia sair até há pouco tempo, prometeu regressar depois de Cannes, apesar do risco de represálias, pois ninguém sabe que destino as autoridades lhe reservam depois desta décima primeira longa-metragem agora premiada internacionalmente.

"O mais importante é o facto de o filme ter sido feito. Não tive tempo para pensar no que poderia acontecer. Estou vivo enquanto fizer filmes", afirmou à AFP esta semana.

Ao entregar-lhe a Palma de Ouro, a presidente do júri, Juliette Binoche, falou da vocação dos artistas para "transformar a escuridão em perdão".

A longa-metragem foi rodada clandestinamente, tendo o realizador recusado pedir autorização para filmar, desafiando as leis da República Islâmica, ao mesmo tempo que várias das suas atrizes aparecem sem véu.

É o segundo iraniano a ganhar a Palma de Ouro, depois de Abbas Kiarostami com "O Gosto da Cereja" (1997), e, em 2024, um outro iraniano, Mohammad Rasoulof, ganhou um prémio especial por "The Seeds of the Wild Fig Tree".

O 78.º Festival de Cinema de Cannes fez eco das guerras no Médio Oriente e na Ucrânia, e também de algumas declarações empenhadas, a começar pelo ataque de Robert De Niro a Donald Trump na cerimónia de abertura.

O dia do encerramento do festival foi marcado por dois cortes da eletricidade que aconteceram durante o dia, estando as autoridades francesas a investigar a possibilidade de sabotagem.