Na freguesia da Santa, no concelho do Porto Moniz, o dia de eleições legislativas regionais amanheceu com mais conversa sobre o desaparecimento do ouro das coroas das Saloias do que propriamente sobre programas partidários. O episódio, que envolveu peças simbólicas usadas pelas crianças nas visitas do Espírito Santo, continua a alimentar murmúrios e indignação entre a população, num misto de incredulidade e resignação. O caso está sob investigação policial e, apesar do silêncio do pároco, o Bispo do Funchal já confirmou a perda do valioso espólio, sublinhando que espera que os bens possam ser recuperados.

Mas esta manhã de domingo ficou também marcada por pequenas tensões políticas entre representantes do PS e do PSD-M à porta das mesas de voto da freguesia. Às 10h00, tinham votado apenas 189 dos 1004 eleitores inscritos nas duas mesas, mas o ambiente já fervilhava com queixas e trocas de acusações.

Olavo Câmara, delegado do Partido Socialista, apontou a presença assídua e contínua de Valter Correia, deputado do PSD-M e natural da freguesia, junto aos acessos às Assembleias de Voto. Embora ainda não tenha formalizado protesto junto da Comissão Nacional de Eleições, o socialista fez questão de registar a sua insatisfação, avisando que acompanhará o decorrer da jornada eleitoral antes de tomar medidas.

Do lado social-democrata, a resposta não se fez esperar. Valter Correia desvalorizou as queixas e devolveu as críticas, acusando o PS de ter “delegado a mais” e de utilizar elementos ligados à sua candidatura para dar boleias a eleitores, uma prática que, sublinha, pode configurar uma irregularidade, caso seja feita de forma organizada.

Apesar da tensão, ambos os representantes garantem que o clima é de tranquilidade e respeito, com um “tudo pacífico” trocado entre sorrisos e recados.

Entretanto, fora do ambiente das urnas, o centro da freguesia mexe-se ao ritmo de sempre: no Provérbio, no bar ou no Mini Mercado, a clientela vai chegando com cadência constante, como se o dia fosse apenas mais um domingo. Ali, fala-se de tudo: das eleições, do ouro desaparecido, dos políticos de cá e dos de fora – mas o tom é mais de resignação do que de entusiasmo.

Num dos círculos eleitorais mais pequenos da Região, onde a política é levada em tom familiar e cada rosto é conhecido, o dia decorre sob um olhar atento e curioso. E ainda que as urnas falem no fim do dia, nesta manhã de Santa, o que realmente se comenta é a ausência do ouro e o excesso de presença… dos políticos.

Enquanto isso o braseiro começa a ficar no ponto.