
É uma enorme diversidade genética, que coloca Portugal numa posição privilegiada face à maioria dos países europeus. Esta profusão de animais domésticos com características únicas tem raízes históricas ancestrais e resulta, em grande parte, da nossa localização geográfica, no extremo ocidental da Europa.
"Os bovinos, por exemplo, e os ovinos e os porcos foram domesticados no Médio Oriente e depois dispersaram e, portanto, quando chegam à Península Ibérica, passando as rotas do mediterrâneo e as rotas do norte da Europa, eventualmente, mantêm essa diversidade no extremo. Já não tinham mais para onde ir? Já não tinham mais para onde ir! Isto também se verifica em Inglaterra, curiosamente, apesar de ser ilha", diz a geneticista Catarina Ginja.
Resistentes, rústicas e perfeitamente adaptadas ao clima e à paisagem: estas são as principais características das raças autóctones que estão entre nós há milhares de anos. A ovelha merina é disso exemplo. Introduzida na Península Ibérica pela tribo berbere "Beni Merine", durante a ocupação muçulmana, estes animais portadores de uma lã conhecida pela suavidade do toque estão espalhadas pelo mundo inteiro.
"É um animal que na latitude da Alemanha está em casa, que nos Alpes está em casa, que em Rambouilet - é uma povoação ao lado de Versailles - está em casa, que na Península Ibérica, que conhecemos todos nós, está em casa. Que foi para a Austrália, que povoou a Nova Zelândia, que está na África do Sul, na Argentina, nas Pampas. É um típico português, no fundo? (Riso) Exatamente!", refere Tiago Perloiro, secretário técnico da ANCORME (Associação Nacional de Criadores de Ovinos de Raça Merino).
No Alto Minho, a criação de galinhas caseiras sempre foi uma forma de compor a economia doméstica. Negócio de mulheres, que a aldeia de Linhares, no concelho de Paredes de Coura tenta reavivar, com a substituição dos frangos de aviário por galinhas brancas, amarelas, pedreses e pretas lusitânicas, digníssimas representantes das raças autóctones portuguesas:
"Eles próprios têm conhecimento de que o que estão a produzir nada tem a ver com o que tiveram em tempos. As pessoas mais idosas, as mulheres, sabem referir que a carne não era uma carne branca, era uma carne vermelha (...) o ovo, a gema não é uma gema tão clara, que era uma gema mais escura (...) e sabem que agora, se fazem uma canja com uma galinha dessas não é a canja que faziam antigamente", afirma Amândio Pinto, da Associação de Baldios de Linhares.
Ficha Técnica:
Jornalista: Carlos Rico
Imagem: Carlos Artur Carvalho
Edição de Imagem: Francisco Carvalho
Grafismo: Patrícia Reis e Ricardo Trancoso
Ilustrações: Carlos Rico
Produção Editorial: Diana Matias
Colorista: Jorge Carmos
Pós-produção de aúdio: Octaviano Rodrigues
Coordenação: Miriam Alves
Direção: Marta Brito dos Reis e Bernardo Ferrão