"É uma vergonha de todo o tamanho. Foi aceitar ou mandar as botas da UIR [Unidade de Intervenção Rápida, da polícia] pisarem, humilharem e cuspirem sobre a lápide da memória de Afonso Dhlakama. A última humilhação que faltava ser feita à Renamo foi exatamente isto que aconteceu agora", afirmou Venâncio Mondlane, que em maio de 2024 tentou concorrer à liderança da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), tendo sido impedido pelas estruturas do partido.

Numa intervenção na sua conta oficial na rede social Facebook, a partir da Noruega, onde participa no Oslo Freedom Forum (OFF), recordou a intervenção daquela força policial nas manifestações de contestação às eleições gerais de 09 de outubro de 2024 - cujos resultados oficiais não reconhece -, com os protestos a provocarem cerca de 400 mortos.

"Independentemente dos problemas que existem dentro da Renano, na sede nacional da Renano, entrar o maior símbolo da opressão aos moçambicanos, a UIR tomar de assalto a sede da Renamo com gás lacrimogéneo e levar ex-guerrilheiros da Renamo, que são aqueles que sustentaram a luta da Renamo que levou exatamente às grandes mudanças constitucionais que aconteceram na década de 90, não pode ser", criticou.

A polícia recuperou na quarta-feira a sede nacional da Renamo, disparando tiros e gás lacrimogéneo para acabar com o protesto de antigos guerrilheiros contra a liderança de Ossufo Momade, que ocupavam o local desde 15 de maio, registando-se pelo menos um ferido.

"As pessoas que deram ordens e que foram pedir ajuda à Frelimo para que fosse autorizado o ataque à sede da Renamo ainda querem continuar como líderes da Renamo? Querem continuar como pessoas válidas para este país?", questionou, na intervenção de hoje, Venâncio Mondlane, que saiu do partido após o congresso de maio de 2024, em que foi impedido de entrar e de concorrer à liderança, nomeadamente pela exigência colocada de 15 anos de militância.

No ano anterior, em outubro, Venâncio Mondlane tinha concorrido à autarquia de Maputo pela Renamo, tendo reclamado vitória apesar dos resultados oficiais voltarem a dar como vencedora a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), protagonizando em seguida mais de 45 dias de marchas e protestos de contestação na capital.

No início de 2024, Mondlane -- que antes da Renamo esteve no Movimento Democrático de Moçambique - ainda avançou para os tribunais para forçar a liderança da Renamo a convocar um congresso para eleger nova direção, o que conseguiu, processo do qual voltou a falar hoje, criticando os autoapelidados membros de "gema" do partido.

"Quando eu cheguei à Renamo, conheci alguns que diziam que são Renamo de gema. Porque nós éramos miúdos, que eles conheciam a Renamo verdadeira, a Renamo pura. São os mesmos, hoje, que eu não vejo posicionamento firme, não vejo neles um posicionamento vigoroso em relação à situação que a Renamo está a passar", disse, acusando esses membros de nada terem feito pela realização do congresso, desafiando-os a "aparecerem" nesta fase.

"Nada dizem, estão calados. E se fazem alguma coisa, estão a fazer às escondidas. E se fazem alguma coisa, estão a fazer de forma cobarde. Ninguém dá a cara (...). Deveriam aparecer agora, a levantar o espírito da Renamo, a salvar a Renamo", afirmou.

Garantiu contudo, que este posionamento, numa altura em que está a criar o seu próprio partido, Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamala), não significa qualquer regresso à Renamo: "Não confundam, não estou aqui para dizer que quero voltar para trás, que quero algum lugar na Renamo. Já vos disse, estou a ir para a frente. Mas eu sentia que tinha que fazer algum comentário".

PVJ // JMC

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