"O grande responsável pela defesa de Moçambique somos nós, os moçambicanos. Os nossos amigos vão nos ajudar. Eu tenho dito que agora estamos numa fase de capacitação, de construção de resistência, estabilização do país depois da recuperação dos problemas", explicou o chefe de Estado, em declarações aos jornalistas, no fim de uma visita a Washington, sobre a situação em Cabo Delgado, província palco de ataques de terroristas nos últimos seis anos.

O contingente militar do Botsuana começou a retirar-se em 05 de abril de Cabo Delgado, norte de Moçambique, marcando o início da saída da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SAMIM) que combatia o terrorismo naquela província.

Questionado sobre esta saída em curso da missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), prevista até julho, e com a possibilidade do reforço do contingente militar do Ruanda que está na província, o Presidente moçambicano não quis avançar detalhes.

"Não vamos expor como é que nós vamos trabalhar lá", disse Nyusi, garantindo apenas que Moçambique está na fase de capacitação das Forças de Defesa e Segurança nacional, ao mesmo tempo que decorre a "assistência humanitária" e a "reconstrução daquelas zonas onde estão destruídas".

Face à possibilidade, admitida pelo Ruanda, de reforço do atual contingente de mais de 2.000 homens em Cabo Delgado, a oposição moçambicana tem vindo a criticar essa presença militar no país, alegando que não foi discutida no parlamento.

"Dizer que isso não foi ao parlamento, mesmo as mortes que estão ser infligidas não foram discutidas no parlamento", ironizou, garantindo que a presença destas tropas resultam de acordos militares anteriores e que também a presença da missão da SAMIM não foi ao parlamento.

A SAMIM está em Cabo Delgado desde meados de 2021 e, em agosto de 2023, a SADC aprovou a sua prorrogação por mais 12 meses, até julho de 2024, prevendo um plano de retirada progressiva.

A SAMIM compreende tropas de oito países contribuintes da SADC, nomeadamente Angola, Botsuana, República Democrática do Congo, Lesoto, Maláui, África do Sul, República da Tanzânia e Zâmbia, "trabalhando em colaboração com as Forças Armadas de Defesa de Moçambique e outras tropas destacadas para Cabo Delgado".

O Governo moçambicano assumiu em 26 de março que a condição atual da guerra contra rebeldes na província de Cabo Delgado justifica a saída daquela missão militar.

"A situação em que nós nos encontramos agora é muito diferente daquela em que nós estávamos quando esta força veio a Moçambique. A situação atual já justifica que se acione a sua retirada", declarou Filimão Suaze, porta-voz do Governo moçambicano, momentos após uma reunião do Conselho de Ministros, em Maputo.

A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicana anunciou em 23 de março que as tropas da SADC vão abandonar o país devido a limitações financeiras.

"A SAMIM está a enfrentar alguns problemas financeiros e nós [Moçambique] também temos de tomar conta das nossas tropas e teríamos dificuldades em pagar pela SAMIM. Os países não estão a conseguir colocar o dinheiro necessário", declarou Verónica Macamo.

Segundo o porta-voz do Governo, a retirada da tropa da SADC esteve sempre na mesa e nada impede o Governo de voltar a solicitar a missão, caso julgue necessário.

"Estas missões sempre têm um prazo, para o início e para o seu término (...). Esperamos que todos os pressupostos sejam observados para, até ao final de julho, esta força tenha regressado, nada obstando que, entendendo haver necessidade do seu regresso a Moçambique, assim o seja", acrescentou o porta-voz do executivo moçambicano.

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