O ministro da Agricultura do Japão demitiu-se esta , em consequência de críticas por ter afirmado que nunca compra arroz porque lhe é dado por apoiantes, numa altura de crise devido ao elevado preço deste alimento.

A demissão de Taku Eto representa mais um revés, antes das eleições legislativas deste verão, para o Governo do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, cuja taxa de aprovação se mantém no nível mais baixo desde que assumiu o cargo em 2024.

Ishiba nomeou o ex-ministro do Ambiente, Shinjiro Koizumi, para dirigir a pasta da Agricultura.

A demissão surge depois de Ishiba se ter reunido com Eto na terça-feira, "repreendendo-o severamente" - como o próprio ministro admitiu - pelos seus comentários, pedindo-lhe que refletisse sobre "o que aconteceu" e se esforçasse para "reduzir os preços do arroz" com um novo pacote de medidas.

No domingo, Eto disse, durante um discurso na cidade de Saga, no sudoeste do Japão, que "nunca compra arroz" porque recebe muito de apoiantes.

"Tenho tanto na minha despensa que poderia vender", afirmou.

Oposição ameaçou com moção de censura

Durante um discurso perante a Comissão de Orçamento da câmara alta do Parlamento japonês, Eto admitiu que o comentário foi "um erro" e que tinha comprado arroz na semana anterior num supermercado, acrescentando que "era inapropriado para aqueles que estão a ter dificuldades em adquiri-lo".

Os partidos da oposição tinham ameaçado apresentar uma moção de censura contra o Governo, se o ministro não se demitisse esta quarta-feira.

"Fiz um comentário extremamente inapropriado numa altura em que os consumidores estão a lutar contra o aumento dos preços do arroz", afirmou Eto aos jornalistas, depois de entregar a demissão.

"Achei que não seria apropriado continuar como ministro", precisamente quando o Governo precisa de enfrentar os desafios do preço do arroz, justificou Eto.

Preço do arroz duplicou no último ano

O preço do arroz, alimento básico no Japão, duplicou no último ano, obrigando os restaurantes e os consumidores a procurar alternativas e o Governo a libertar parte das reservas nacionais para tentar estabilizar os preços.

O aumento dos preços atingiu 90% em 2024, impulsionado pela subida da procura nos restaurantes, devido ao crescimento do turismo, mas também pela "compra por pânico", depois de o Governo ter emitido um alerta no verão passado sobre um possível mega sismo.

Perante essa situação, o Governo japonês decidiu libertar toneladas de reservas de arroz para o mercado geral a partir de março, algo inédito.

O Japão criou as reservas nacionais de arroz em 1995, após uma grave escassez do cereal dois anos antes, devido a um verão excecionalmente frio. Por ano, o governo armazena cerca de 200 mil toneladas para garantir mantimentos de emergência.